Momentos #40

Paulo Henrique Ganso é por muitos descrito como a sombra de Neymar. Apesar de ser mais velho 3 anos que o craque do Barcelona, no seu tempo de afirmação de ambos na equipa senior do Santos, era que terminaria com um tri santista no Brasileiro (2010, 2011, 2012) e com a conquista de uma Libertadores em 2011 e de uma Copa Sul-Americana em 2012, meia imprensa brasileira advogava que Neymar não poderia jamais sair sozinho para a Europa. Ganso era para Neymar o mesmo que McCartney era para Lennon nos Beatles: uma dupla que só iria funcionar junta. Quem quisesse contratar teria forçosamente que levar Ganso consigo porque Neymar não iria render tanto sem o grande companheiro de vitórias na turma santista. Falsa ilusão típica dos brasileiros. Nem Neymar renderia menos em Barcelona no primeiro ano porque estaria submerso no estilo de jogo do Barcelona, nem Ganso seria o tal maestro da canarinha que os brasileiros acreditavam que ele fosse. Depois do excelente mundial de sub-20 realizado na Colômbia em 2011, outro talento (de nome Oscar) seria em diante o dono dessa camisola no escrete.

O destino foi cruel com Paulo Henrique Ganso. De talento expansivo no acto de organizar o jogo atacante da equipa, Ganso veria o seu colega assinar aquele escandaloso contrato com os catalães enquanto a sua carreira, estagnada devido a uma grave lesão nos ligamentos do joelho, o levava ao mesmo tempo para outro grande do estado de São Paulo: o tricolor São Paulo. Por 10 milhões de euros. Em 2011 chegou-se a falar que o City já tinha tudo acertado com o Santos para Ganso se transferir para Inglaterra. A lesão haveria de tramar PHG.

Hoje, Paulo Henrique Ganso faz as delicias dos adeptos do tricolor com a sua fantástica capacidade de passe, com as assistências que dá jogo após jogo e com o seu posicionamento aprimorado no rectângulo de jogo. Por vezes é criticado pelo facto de ser um jogador demasiado estático no terreno, sem dinamismo, características que são claramente contrárias aquelas que devem ser as de um 10 puro. Contudo, a sua regularidade subiu imenso na equipa de Rogério Ceni e de vez em quando, Ganso brinda-nos com verdadeiros hinos ao futebol. Este, o do momento 40 do nosso blog, é um deles!

Crónica #11 – Málaga 0-0 Barcelona

malaga

Uma noite desinpiradíssima da equipa de Luis Enrique no La Rosaleda permitiu o empate aos malaguenhos (ainda não perderam em casa este ano) e a recuperação de dois pontos ao Real Madrid. A equipa do Barça perdeu à 5ª jornada os primeiros 2 pontos nesta liga.

Para a recepção à equipa catalã, o treinador da casa Juanma Garcia optou por colocar a equipa em campo num esquema táctico 4x5x1, por vezes 4x6x0 quando o avançado Amrabat caía para uma das alas. Garcia fez alinhar o camaronês Kameni na baliza, uma defesa composta pelo venezuelano Roberto Rosalez na direita, a habitual dupla de centrais composta por Sérgio Sanchez e Wellington Oliveira e Miguel Torres na esquerda; para não ficar em inferioridade numérica contra o meio-campo da equipa de Luis Enrique, povoou o meio-campo com o médio defensivo Ignacio Camacho juntamente com Duda, Sergi Daerden, colocando o venezuelano Juanpi e o jovem canterero Samu Castillejo nas alas; na frente Nordin Amrabat foi a principal referência ofensiva apesar de não ser um avançado de área.

Já Luis Enrique tem promovido alguma rotação no plantel do Barcelona. O próprio já afirmou, apesar das críticas a que tem sido sujeito por parte da imprensa da especialidade, que pretende efectuar alguma rotação no plantel ao longo da época. À conta dessa rotação, algumas estrelas da equipa já ficaram de fora de algumas partidas deste início de temporada.
Sem poder contar com Luis Suarez, Jeremy Mathieu, Dani Alves ou Javier Mascherano, Luis Enrique fez alinhar Claudio Bravo na baliza (Ter-Andre Stegen parece estar a perder a batalha para o Chileno que os culés foram buscar a San Sebastian), estreou o lateral Douglas na direita, formou o eixo da defesa com Marc Bartra e Gerard Piqué e colocou na esquerda o habitual dono da posição Jordi Alba; no meio-campo, Busquets como o homem mais recuado, jogando atrás de Rakitic (a jogar como interior direito) e Andrés Iniesta como interior esquerdo; na frente, Neymar começou mais colado ao flanco esquerdo (haveria de se encostar mais a Messi com o decorrer do jogo), Messi como falso avançado e Pedro na precisa posição de Neymar no flanco contrário.

A equipa catalã iniciou o jogo com a sua habitual pressão alta a toda a largura do terreno de forma a não deixar a equipa do sul jogar. Com Bartra a vigiar de perto o principal perigo da equipa adversária (Amrabat) de nada valeu esta marcação individual. Fugindo à marcação do central espanhol, o avançado marroquino cirandou por todo o lado durante os 90″, obrigando o central da formação do Barça a acompanhá-lo para todo o lado. Foi visto muitas vezes na esquerda e na direita a participar nos processos de circulação da equipa bem como a aproveitar tudo aquilo que os companheiros lhe poderiam dar para meter a sua espantosa aceleração: lançamentos laterais para as linhas, bolas para as costas da defesa. Amrabat foi de facto um enorme quebra cabeças para a defensiva catalã ao longo dos 90 minutos. No entanto, a sua equipa não conseguiu lucrar com o jogo que tentava construir através dos flancos pois a equipa não tem ninguém que consiga jogar na área para aproveitar o jogo que é construído pelo jogador nas alas bem como o arrastamento que promove com as suas movimentações. Esta é uma das lacunas da equipa de Málaga. Para acompanhar um jogador com as características de Amrabat, a equipa deveria ter um ponta-de-lança goleador na área. Roque Santa Cruz (iniciou o jogo no banco) é à primeira vista esse tipo de jogador mas está a passar pelo seu natural período de decadência.

Defensivamente, esta equipa do Málaga provou logo nos primeiros minutos uma excelente organização defensiva, povoando muita gente no meio-campo para não deixar que os construtores de jogo do Barça (Rakitic e Iniesta) pudessem fazer o habitual jogo entre linhas (as típicas tabelinhas que estes jogadores fazem entre si, tabelinhas seguidas de passe para as costas da defesa, tabelinhas com corte nas costas, os dribles desequilibradores de Messi à entrada da área) que Rakitic, Iniesta, Messi e Neymar sabem fazer tão bem. Impedidos de jogar para o jogador argentino, a equipa de Barcelona foi praticamente obrigada durante toda a partida a jogar para as alas, onde Jordi Alba sempre muito bem subido no terreno foi municiado com imensas bolas para colocar o seu mortífero cruzamento. Se na ala esquerda Roberto Rosalez deu muito espaço ao internacional espanhol por causa da constante flecção de Neymar para zonas mais centrais do terreno, levando Juanma Garcia a colocar Amrabat naquele flanco para estancar as subidas do lateral espanhol, do lado direito, Miguel Torres anulou muito bem Douglas Pereira dos Santos.

O primeiro lance de perigo viria aos 7″. Na sequência de um canto marcado por Rakitic que Kameni iria segurar sem dificuldades, o camaronês correu com a bola até ao limite da área e vendo Amrabat a iniciar uma movimentação do centro para a esquerda no meio-campo em velocidade (o marroquino pediu-lhe a bola com um aceno) chutou longo para o espaço onde o avançado entrou. Dominando a bola perante a presença de Jordi Alba (o único jogador do Barça que não sobe nos cantos), o marroquino trabalhou sobre o lateral e atirou para uma defesa fácil por parte de Claudio Bravo.

Desde logo percebi pelas movimentações de Rakitic que o jogador croata está a ser completamente anulado nesta equipa. Reduzindo a sua influência enquanto um excelente organizador de jogo que gosta de iniciar as transições em velocidade pelo miolo e servir os companheiros de ataque com deliciosos passes em ruptura, o verdadeiro estilo de jogo que marca a diferença que o croata faz no jogo, Rakitic aparenta estar algo preso ao jogo de posse e circulação desta equipa do Barcelona. Não parece ser o jogador expansivo que era em Sevilla. Nesta partida, limitou-se literalmente a receber a bola de um companheiro e a passá-la directamente para as subidas do lateral Douglas.

Aos 14″, num livre mais descaído para a direita, bem ao jeito de Messi, o astro argentino haveria de atirar por cima da baliza de Kameni. Muito escondido entre os centrais do Málaga, o argentino esteve ausente da primeira parte do La Rosaleda. Haveria de reaparecer a partir dos 40″ quando recuou no terreno para pegar no jogo da sua equipa na primeira fase de construção.
2 minutos depois, Jordi Alba haveria de centrar pela esquerda para o primeiro poste onde apareceu Pedro (bem marcado e estorvado na sua acção por Wellington) a desviar a bola com um toque subtil num lance que não causou perigo para a baliza de Kameni.

Aproveitando a descompensação já explicada no lado direito da equipa do Málaga, dada a incapacidade que a equipa catalã demonstrava em aplicar o seu veloz jogo de combinações pelo centro do terreno e em acelerar o jogo a meio-campo sempre que recuperava a bola, Iniesta e Neymar começaram a jogar mais para as subidas de Jordi Alba. Aos 25″ o  lateral voltou a cruzar para o coração da área. Messi tentou entrar no sitio certo para cabecear a bola mas acabou por falhar o cabeceamento. A bola sobrou para trás onde Pedro apareceu capaz de matar no peito e finalizar. No entanto, o avançado do Barcelona falhou o domínio e a bola acabou por sair pela linha final.

A partir deste lance, o jogo tornou-se mais quezilento (recheado de pequenas faltas e muitas interrupções) e muito mal jogado por parte das duas equipas. Maior ascendente para o Barcelona na partida apesar da equipa catalã não conseguir materializar a extensa posse de bola que teve durante o primeiro tempo. Aos 41″ num lance construído novamente na esquerda por Alba, Pedro tentou finalizar com um remate em rotação que foi embater no peito de Wellington. O avançado reclamou grande penalidade mas Hernandez Hernandez, o árbitro nomeado para a partida viu com clareza aquilo que confirmei na repetição televisiva: a bola bateu no peito do duro central brasileiro.

O que Hernandez Hernandez não viu foi um puxão a Messi quando, junto ao intervalo, este se preparava para entrar na área para finalizar um cruzamento de Jordi Alba. O argentino iniciou a jogada: vindo buscar a bola atrás, driblou dois jogadores malaguenhos lateralizando de seguida Pedro que tocou para trás para Jordi Alba. O lateral voltou a cruzar tenso para a área. Neste espaço de tempo, o argentino fez uma movimentação interior para poder ir finalizar aquela bola. Pelo caminho foi puxado na sua camisola por um jogador do Málaga, impedindo-o de chegar a tempo de empurrar a bola para a baliza de Kameni. O árbitro da partida nada marcou e tanto Messi como Neymar chegaram atrasados ao cruzamento e deixaram a bola sair pela linha lateral do flanco contrário.

Ao intervalo, o empate justificava-se pela inabilidade que o Barcelona estava a ter em conseguir colocar mais velocidade no jogo, mais criatividade capaz de abanar com a excelente organização defensiva da equipa malaguenha e mais pragmatismo no jogo.

A 2ª parte foi, na sua globalidade, muito confusa. Ao intervalo, Luis Enrique não conseguiu ditar aos seus jogadores uma fórmula capaz de alterar o rumo dos acontecimentos. A equipa do Barcelona manteve a esmagadora posse de bola mas não conseguiu ter um momento de brilhantismo (colectivo ou individual) que lhe permitisse vencer a partida.
Com um recomeço algo faltoso e muito mal jogado de parte a parte (durante os minutos 50 e 55 as equipas chegaram a praticar um atípico futebol de chutão para o ar) nenhuma das equipas conseguiu assentar o jogo. Só aos 57″ é que o Barcelona fez uma jogada minimamente encadeada pelo flanco direito na qual Douglas Santos combinou com Pedro no centro que por sua vez deu para Rakitic um pouco mais atrás. O croata centrou largo para o 2º poste onde apareceu Neymar a ganhar a frente a Rosalez que, na hora h, tirou o pão da boca a Neymar. O lateral-direito Venezuelano foi ambíguo ao longo dos 90″: defensivamente, conseguiu cortar algumas vazas de jogo a Neymar mas, na saída em velocidade foi errático no passe. Preocupado em defender o brasileiro deu muito espaço para Alba manobrar os seus cruzamentos na ala esquerda.

A partir deste lance tivemos mais Messi e Iniesta na partida. Contudo, o estilo de jogo praticado pelos dois resumiu-se a um par de dribles e a longas aberturas para a entrada dos laterais pelos flancos, sem que estes conseguissem obter resultados práticos.

Aos 63″ Luis Enrique tentou dar novas ideias ao ataque da equipa, tirando Neymar e Pedro de campo para as entradas de dois cantereros da equipa: o extremo-esquerdo Sandro Ramirez e o avançado Munir El Hadadi. Recuando em definitivo Messi para perto de Iniesta, El Hadadi foi-se colocar como homem de área da equipa de forma a tentar aproveitar os cruzamentos que vinham dos flancos. Mais perto de Iniesta, Messi não conseguiu combinar com o médio ofensivo espanhol.
Poucos minutos depois, Juanma Garcia respondeu com a saída do esforçado Duda (muito bem defensivamente na cobertura de espaços em zona central) para a entrada de Luis Alberto, médio esquerdo emprestado pelo Liverpool.
Uma acção individual do jogador emprestado pelos Reds pela esquerda levaria Douglas a cometer uma falta junto à entrada da área. Do canto curto, o trinco Ignacio Camacho seria capaz de rematar em força ao primeiro poste para defesa muito apertada de Claudio Bravo para o poste. Piqué foi ávido a garantir o ressalto do poste e atirar para canto. Pode-se dizer que esta foi a única oportunidade de golo da partida. Bons reflexos por parte do guardião internacional chileno.

Aos 73″ Luis Enrique tentou refrescar o flanco direito com a entrada de Adriano para o lugar de Douglas. A noite não era do Barcelona. Messi ainda tentou pegar no jogo e num lance individual pelo lado direito, tirou dois adversários do caminho, encaminhou-se para a linha mas foi desarmado por Wellington Oliveira. Na sequência do lance, o brasileiro agrediu o argentino apertando-lhe violentamente o queixo com a mão. O argentino aproveitou a deixa para se deixar cair teatralmente no relvado. Hernandez Hernandez poupou a expulsão ao central do Málaga. Concluíndo o jogo com mais coração que razão, aproveitou o Málaga para somar um 1 ponto frente à equipa catalã.

Momentos #2

neymar zuniga

Neymar e Camilo Zuñiga reencontraram-se ontem no designado (pela imprensa brasileira) “jogo da reconciliação”. O craque do Barcelona e o lateral do Napoli deram um caloroso abraço na habitual cerimónia de moeda ao ar e troca de galhardetes que antecedeu o jogo amigável disputado em Miami entre as duas selecções sul-americanas.

O duelo (findo com o resultado de 1-0 para a selecção brasileira com golo de Neymar) ficou marcado por algumas entradas fora das regras do colombiano ao brasileiro. Uma dessas entradas motivou o cartão amarelo ao lateral Colombiano.

Há cerca de 2 meses atrás, a imprensa brasileira especulou imenso, nos dias que se seguiram ao jogo dos quartos-de-final da prova, sobre a possibilidade de Neymar ter contraído uma lesão incapacitante. Durante dias fomos bombardeados nos nossos feeds de facebook com notícias do Globo Esporte, da Folha de São Paulo e de outros órgãos de comunicação social com notícias que afirmavam que caso a joelhada do colombiano acertasse 2mm mais ao lado, o craque do Barcelona poderia ter ficado paraplégico. O que é certo é que Neymar não parece ter ficado muito incomodado com a situação: para além de ter reagido com algum cavalheirismo à pulhice do colombiano (agradecendo a sua visita imediata quando se encontrava acamado; desafiando o jogador napolitano para o ice bucket challenge), no jogo de ontem, decidiu tirar “sarro” da situação ao rebolar assim desta maneira:

neymar