Benfica 3 – 1 Moreirense – Crónica

Os Problemas sérios e por resolver, na construção ofensiva do Benfica, a partir da defesa.

Quando aos 16 minutos o Moreirense marcou na Luz, poucos esperavam que no final da jornada 5 da liga, o Benfica seria líder isolado. Os pupilos de Miguel Leal apresentaram-se no recinto dos encarnados com o trabalho de casa feito.
Já toda a gente percebeu que este Benfica com Jardel, no lugar de Garay, está a anos-luz da época passada, no capítulo da construção ofensiva a partir da defesa. A falta de qualidade técnica da defesa encarnada tem provocado alguns dissabores na Luz, quando as equipas adversárias pressionam no momento de construção. Miguel Leal sabe disso, e preparou a equipa para pressionar alto e em bloco, aliando isto a um excelente posicionamento defensivo. A equipa de Moreira de Cónegos fez tudo isto de forma exímia nos primeiros 35 minutos, ao ponto de anular quase por completo o jogo ofensivo da equipa da casa.

O fantasma de terça-feira.

Apesar disto, o Be790nfica até podia ter chegado primeiro ao golo, não atravessasse Lima uma crise de confiança (e de golos), bem desmarcado por Talisca, Lima teve tanto tempo que se deslumbrou e acabou por perder o ângulo atirando contra Marafona. Com excepção deste lance, o Benfica praticamente não existiu ofensivamente nos primeiros 35 minutos de jogo, não aproveitando os mais de 70% de posse que dispôs.

O Moreirense, pelo contrário, aproveitou muito bem o pouco tempo que teve com a bola, e chegou ao golo com um bom lance desenvolvido do centro para a esquerda, após perda de bola do meio campo das águias, com Arsénio a fazer um excelente cruzamento para João Pedro que fugiu de Eliseu e, na cara de Júlio César (estreia absoluta pelos encarnados), com um salto de peixe fez o golo.

Minuto 16 e a Luz não queria acreditar. Parecia que os seus jogadores tinham voltado aos minutos iniciais do jogo com o Zenit, na terça-feira.Eliseu alinhou com Jardel (disposicionado, não seguiu a movimentação do capitão Luisão), e permitiu que João Pedro lhe fugisse.

As alterações de Jesus.

Minuto 35, e Jesus faz algo quase inédito. Substituição não forçada (pelo menos por questões físicas e disciplinares) e troca Samaris por Derley. O helénico demonstrou pouco entrosamento com a equipa, e não conseguiu ser a ajuda adequada para os centrais no primeiro momento de construção encarnado. É ele inclusivamente que perde a bola no lance do golo de João Pedro, e origina esse contra-ataque.
Com esta alteração, mais do que jogar com dois avançados centro, Jorge Jesus procurou uma melhor construção ofensiva. Recuou Enzo Perez e Talisca, passando o primeiro a pegar no jogo no primeiro terço do terreno.
A partir daí ficou mais difícil para o Moreirense defender. Enzo não tem grandes dificuldades em jogar pressionado e o espaço passou a ser maior na defesa dos Minhotos. As faltas aumentaram, e as paragens também. Dois minutos depois de ter entrado, Derley faz a finta sobre Marcelo Oliveira na esquerda do ataque, e arranca-lhe o primeiro amarelo (bem mostrado).
A primeira parte acabou na Luz com uma bola no poste de Salvio ( que chutou sem ângulo), e a sensação que pairava no ar era de que o jogo encarnado só podia melhorar.

Começa a segunda parte com os mesmo dados dos últimos 10 minutos da primeira parte. O público da Luz, Enzo Perez e Talisca empurravam a equipa para a frente. Os jogadores do Benfica forçavam o 1 vs 1 e as faltas foram acontecendo. Enquanto isso Marafona foi se tornando o alvo das bancadas, aliando uma boa exibição a sucessivas perdas de tempo, alegadas lesões, interrompendo o jogo por diversas vezes, ao ponto de, a certo ponto, os jogadores do Benfica não devolverem a bola (e bem, na minha opinião) ao Moreirense, nas interrupções provocadas pelo seu guarda redes.

Expulsão, substituição, golo!

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Aos 57 acontece o momento do jogo. Talisca embala pelo corredor central e só é travado por uma entrada duríssima de Marcelo Oliveira. Segundo Amarelo e expulsão. Se já se notava os cansaço da equipa verde e branca, a partir dali esse processo acelerou e ficou muito complicado defender da mesma forma.

Aliado a isto, Talisca lesionou-se e acabou mesmo por ser substituído, mais tarde por Ola John. O brasileiro até estava a ser dos melhores do Benfica, mas a entrada de Ola John para a direita desequilibrou por completo o jogo. O internacional holandês mostrou o melhor de si e semeou o pânico a partir do lado esquerdo encarnado. A sua entrada libertou Gaitán para o centro do terreno (que até aqui só se tinha destacado pela negativa), e até Eliseu pareceu combinar melhor com o holandês do que com o argentino.

O jogo ficou de sentido único e restava saber se ia ser um daqueles jogos em que a bola não entra até ao fim, ou se entraria o primeiro relativamente cedo de forma a permitir uma remontada tranquila. Depois de um lance em que Jardel por duas vezes e Luisão por fim, desperdiçaram de forma incrível o golo, parecia que a primeira hipótese ia prevalecer. No entanto, Eliseu voltou a desbloquear o resultado, como tinha feito com o Boavista, à lei da bala. Bomba do português ex-Malaga a cerca de 30-35 metros da área e golaço que fez explodir as bancadas. O mais difícil estava feito aos 67 minutos, e ainda restava meia hora de jogo para consumar a reviravolta.

Ola remontada!1921895_10154618551150716_6493796512236498688_n

Não demorou muito até que Gaitan, após grande desmarcação de Ola John, fizesse um cruzamento que sobrevoou a área de Marafona com sucessivos falhanços de parte a parte, levando a bola até aos pés de Maxi Pereira, que bem ao seu estilo fuzilou a baliza sul do Estádio da Luz.

2-1 e Jorge Jesus que vibrou efusivamente com os dois golos, mandava os seus jogadores trocarem a bola com calma.
A partir daqui a vitória do Benfica nunca mais foi contestada, e ainda deu tempo para Lima voltar aos golos. O brasileiro lançado por Ola John (mais uma grande desmarcação), sofreu um toque (não intencional) de Anilton na perna esquerda e caiu na área. Na conversão da grande penalidade Lima voltou a sorrir (não marcava desde o Benfica – Juventus).
3-1 e os três pontos no bolso.

Destaques:

Miguel Leal: O Moreirense até pode não ter nenhum jogador que se destaque pela qualidade individual e estar nos lugares mais baixos da classificação, mas a forma exímia como a equipa se coloca em campo, como pressiona e como defende, demonstram que Miguel Leal é um treinador a seguir com atenção. A primeira parte na Luz e no Dragão foram trabalho essencialmente do treinador. Enquanto houve pernas e 11 em campo, a sua equipa pouco foi incomodada em jogo corrido. Isto não é algo fácil de se fazer nos campos das duas melhores equipas portuguesas. Depois de Lopetegui, foi a vez de Jesus de felicitar o técnico da equipa do Concelho de Guimarães. E de facto, dá gosto ver como tão bem se treina em Portugal. Espero que os resultados apareçam em breve.

Enzo: É o melhor jogador do Benfica. Ontem até começou discreto, mas foi ele o farol da equipa. Pegou no jogo e empurrou o Benfica para a vitória. Jogou e fez jogar, desmarca, leva jogo, defende recupera. Não há palavras para a descrever a importância que tem na equipa. É uma pena que deixe constantemente a sensação de que não ficará por cá por muito mais tempo.

Ola John: Entrou e partiu a loiça. Ganhou sempre no 1 vs 1, mas nem por isso se agarrou em demasia à bola. O holandês esperou pelos colegas, chamou a si os defesas, desmarcou, desequilibrou e está mesmo mais incisivo. Fez carburar o lado esquerdo encarnado com a sua entrada. Grande exibição em 30 minutos, merecendo a titularidade no próximo jogo (Talisca à partida não recupera a tempo).

Talisca: Estava a ser, a seguir a Enzo, o mais esclarecido em campo pelos encarnados. Trocou bem a bola, e foi mais pressionante que o habitual. Na única vez que exagerou no lance individual provocou a expulsão do adversário, e a sua lesão. Não deve jogar na próxima jornada.

Júlio César: Estreou-se pelo Benfica. E não fez praticamente nenhuma defesa. Encaixou um golo sem culpa nenhuma. Notou-se mais frieza na hora de ser seguro e jogar com os pés, especialmente nas bancadas. Não houve a sensação de desconforto nos atrasos para si, o que já é uma vantagem face a Artur.

Gaitán: Apagadíssimo na primeira parte. Perdeu bolas e ficou a protestar consigo mesmo diversas vezes. Estava a ser um a menos até passar para o meio (tirando uns pormenores técnicos). A partir daí desequilibrou e foi dos seus pés que nasceu o cruzamento a reviravolta,

Maxi Pereira: Até nem esteve muito bem ao nível defensivo nem particularmente acutilante a atacar (muito por culpa da desinspiração do seu colega de corredor) mas o seu espírito de guerreiro torna-o fundamental num jogo destes. Provavelmente aquela bola do 2-1 se tivesse vindo parar aos pés de outro jogador mais dotado tecnicamente não dava golo. Mas não, veio parar aos pés de Maxi, o homem que consegue colocar em campo toda a força que vem das bancadas. Como já foi dito atrás, furou a baliza.

Eliseu: Esteve mal no golo do Moreirense, mas a culpa não é inteiramente sua, pois Jardel é que se disposicionou. Bem nas acções ofensivas, principalmente quando o seu colega da lateral passou a ser Ola John. Desbloqueou o jogo com um golaço ( como o golo do Figo?).

Arsénio: Foi dele o excelente cruzamento para o golo de João Pedro. Sempre bastante lúcido com a bola, e sem ela correu Km a pressionar o adversário.

Marafona: Tornou-se o alvo da fúria dos benfiquistas com as constantes perdas de tempo, e com os com os inúmeros pedidos de assistência médica. Esteve sempre muito seguro. Grande defesa a um remate de Lima, ainda o jogo estava 0-0. Apenas um erro, no lance do 2-1 onde não conseguiu sacudir a bola da sua área de forma eficiente, acabou por cair sobre o seu colega da defesa, e não conseguiu chegar a tempo de parar o petardo de Maxi.

PS – Esta crónica é de um Benfiquista doente que tenta ser o mais isento possível.