O rei vai nu!

Ocorridas quase 24 horas da vergonha que aconteceu em Gelsenkirchen, não consigo de maneira nenhuma compreender a razão que tem motivado o silêncio da UEFA. Para uma instituição que apregoa aos sete ventos os valores do respeito e do fairplay no futebol, a omissão e a não-responsabilização dos actos cometidos que toda a europa repudiou e criticou, só me pode fazer concluir que no fim de contas, as bandeiras apregoadas por aquele organismo são puros clichés que só servem para serem inscritos nos galhardetes que são distribuídos nos jogos organizados pela instituição e prestar uma falsa mensagem a todos os agentes e adeptos.

O principal responsável da vergonha que se passou não é o árbitro da partida mas sim o próprio líder da UEFA, ao permitir que uma equipa participante na competição seja patrocinada pela mesma entidade que é uma das principais patrocinadoras da prova. Todos, inclusive, o árbitro da partida podem, dentro de algumas horas, dias, desculpabilizar-se pelos 3 erros cometidos em prejuízo do Sporting. Indesculpável será, para sempre, a promiscuidade existente entre o Schalke 04 e a organização do evento por uma via comum. O que aconteceu ao Sporting em Gelsenkirchen leva-me a uma pergunta básica, pergunta essa que deverá ser transversal à maioria dos adeptos de futebol em Portugal: até que ponto é que os patrocinadores da Champions League não são eles próprios o lobby interessado em delinear todas as fases da prova em prol do seu interesse próprio? Outras perguntas ocorreram-me de imediato na cabeça: e se o prejudicado fosse o Real Madrid ou o Bayern de Munique? Não teriam os dois clubes força necessária para conseguirem a repetição do jogo junto do organismo? As Federações Alemã e Espanhola não teriam tomado imediatamente uma posição forte junto do organismo ao invés de se manterem no silêncio como a Portuguesa? Valerá a pena para os clubes pequenos participar numa competição que está a ser completamente viciada em prol dos mais poderosos?

Michel Platini parece mais interessado em estragar o futebol com as suas visões loucas do que aplicar as modificações que o futebol moderno exige: para bem do futebol, a decisão humana dos árbitros de baliza, agentes susceptíveis pela condição humana de errar tantas ou mais vezes que o trio de arbitragem, deve ser modificada em prol da tecnologia e da fiabilidade do videoárbitro (nos mesmos moldes da sua bem sucedida aplicação em outras modalidades como o rugby). A promiscuidade de interesses não atinge apenas a relação entre jogadores, empresários e fundos. Concerne também a existência de patrocinadores comuns entre competições e clubes que disputam essas mesmas competições.

O Sporting Clube de Portugal pode queixar-se da subtracção de 4 pontos: um penalty que ficou por marcar em Alvalade frente ao Chelsea que poderia dar o empate ao clube português e os 3 pontos de Gelsenkirchen. Tomo portanto como ponto de partida para a derrota a própria expulsão de Maurício:
– O primeiro amarelo mostrado ao central brasileiro é justíssimo. O segundo amarelo é forçadíssimo. Se aquela carga por trás, longe da baliza, numa disputa pelo ar é passível de cartão amarelo, pois então, poucos centrais são aqueles que deverão por essa europa fora terminar os 90 minutos. Bruno Alves é o exemplo mais claro. Per Mertesacker (Arsenal), Leonardo Bonucci (Juventus), David Luiz (PSG) Sergio Busquets (Barcelona), Pepe (Real Madrid) e Omer Toprak (Leverkusen) são alguns dos centrais que abordam o mesmo tipo de lance com a mesma abordagem de Maurício. E quase sempre, nunca são sancionados com cartão nessas abordagens faltosas. Tudo isto me faz crer, tendo em conta a sólida exibição que Maurício estava a realizar, que Sergei Karasaev sabia perfeitamente que ia condicionar a excelente partida que o Sporting estava a realizar para equilibrar a contenda com a expulsão do central.
– No lance do segundo golo do Schalke, dou de barato pela posição de Huntelaar que é muito difícil ao assistente tirar o fora-de-jogo.- O lance do penalty é uma discussão disparatada e tendenciosa. O árbitro de baliza, responsável pela decisão, tinha o campo totalmente aberto para ver Jonathan Silva (de braços abertos e bem afastados da cabeça) cortar o esférico de forma legal.

Errar é humano. Cometer um erro é humano. Outra história é cometer 3 erros que beneficiam uma equipa. Outra história é, como pudemos observar, a falta de critério de Sergei Karasev. Numa falta vulgar como a de Maurício, praticada por tantos sem consequências disciplinares, o russo não teve pejo em expulsar. Em dois outros lances perigosos passíveis de amarelo, em um não marcou uma falta à entrada da área de Nani e noutro (falta dura de Sarr sobre Obasi na direita) marcou falta mas não sancionou o lateral do Sporting com o devido amarelo. Nas faltas a meio-campo do Schalke, algumas delas a travar iniciativas em contra-ataque, nenhum cartão saiu do bolso do árbitro russo para fazer cumprir as leis do jogo e as indicações da UEFA para essas circunstâncias do jogo.

A equipa leonina está de parabéns pelo jogo que realizou. Com 11 jogadores em campo, foi uma equipa muito organizada defensivamente, bem posicionada quando quis pressionar alto e condicionar a saída de jogo por parte dos centrais e do trinco Neustadter, capaz de recuperar muitas bolas a meio-campo e de suster a pressão exercida pela equipa alemã após o golo do Nani. Ofensivamente, circulou muito bem o esférico e teve a sorte de atingir o primeiro golo da partida num canto.

Depois da expulsão de Maurício, o Sporting voltou a provar que com menos 1 unidade consegue jogar para ganhar em qualquer campo do mundo. A equipa voltou a comportar-se de acordo com a tónica que tem sido desenvolvido por Marco Silva: mostrou resiliência e fé quando em desvantagem, organização, ambição (quando tentou pressionar alto) e cautela quando não tirava partido da pressão alta, descendo imediatamente as linhas para se reorganizar no seu meio-campo e tentar travar da maneira possível os ataques da equipa germânica. Patrício comete um erro imperdoável no primeiro golo, William não estava bem posicionado na jogada que deu o segundo e os centrais do Sporting estavam a dormir no lance do terceiro ao deixar Howedes cabecear à vontade. No entanto, a equipa de Marco Silva foi à luta. Adrien e William fizeram um jogo excepcional. Para além de terem aguentado o meio-campo com firmeza e insustentável cansaço nos minutos finais da partida, ainda tiveram forças para ir lá à frente fazer jogar, pressionar e apontar o golo que daria um pontinho precioso à equipa (no caso de Adrien). Carillo e Nani fecharam as alas como puderam e o peruano foi uma das unidades mais in do Sporting. Quando a equipa parecia não ter forças para reagir, o peruano sempre que teve bola na esquerda ou na direita manifestou garra para correr com a bola na sua posse e driblar os defensivamente fracos laterais do Schalke. Nani poderia ter feito melhor em várias situações: quando o jogo estava 2-3 poderia ter aproveitado um lance no qual entra na área mas não conseguiu ser expedito a rematar.

Aplausos também para as exibições de Cedric (falhou apenas no lance do segundo golo mas acertou em cheio no cruzamento para o 2º poste no golo de Adrien) e Jonathan Silva. O jovem argentino tem um futuro promissor pela frente. Aguentou Obasi como pode (não é fácil defender este nigeriano pela simplicidade como usa e abusa da sua rapidez para ganhar a linha de fundo) e conseguiu ter forças para subir no terreno, executar venenosos cruzamentos para a baliza de Fahrmann e ainda pressionar no último terço nos momentos em que a defensiva do Schalke aliviava bolas para o seu flanco, de modo a recuperar rapidamente a bola e executar uma nova vaga para a área. Paulo Oliveira e Sarr também fizeram interessantes exibições: o primeiro não teve medo de Huntelaar e o francês juntou à capacidade de sair bem a jogar quando a equipa precisou que ele conduzisse o esférico, 2 ou 3 cortes providenciais que evitaram males maiores.

Freddy Montero não tem de forma alguma o poder de choque de Slimani. O colombiano correu muito, pressionou muito e sempre que a equipa tentou colocar-lhe a bola em desespero soube estar no sítio certo para a receber e endossar de imediato para um companheiro sob pressão. Não tenho a menor dúvida em afirmar que se o Sporting tivesse o argelino em campo na altura do 3-3, uma ou duas bolas bem colocadas para a área do Schalke poderiam ter dado a vitória.

Quanto à equipa do Schalke, confesso que esperava mais. A solidez defensiva deixa a desejar. Dois laterais muito fracos do ponto de vista defensivo, facilmente permeáveis no 1×1. Benedikt Howedes é o único da defensiva que mantem a concentração durante os 90 minutos. Nas alas, é só potência de contra-ataque. Tanto Draxler pela esquerda como Obasi pela direita são jogadores que gostam de ter bola em transições rápidas: o alemão quase sempre tenta flectir para o meio em velocidade de forma a tentar desmarcar Huntelaar (quase sempre em fora-de-jogo. O holandês faz um truque de ilusão que engana os assistentes, colocando-se quase sempre à frente da linha defensiva num primeiro momento para num segundo momento, aquando do passe recuar rapidamente e dar a sensação que estava em linha) enquanto o nigeriano é um jogador vertical que, como referi, usa e abusa da velocidade para passar pelos adversários. Qualquer lateral com rapidez de movimentos e agilidade e uma marcação cerrada que não permita espaço ao nigeriano para colocar o seu drible, anula-o facilmente. Kevin-Prince Boateng é uma anedota daquilo que era nos tempos do Milan. Neustadter é um jogador interessante mas não é totalmente ineficaz no passe. Max Meyer esteve pouco tempo em jogo para mostrar aquilo que é: um 10 puro, fantasista. Os ausentes Joel Matip, Leon Goretzka, Jefferon Farfán e Tranquilo Barnetta dão outra consistência defensiva e ofensiva à equipa: o camaronês é fortíssimo no jogo aéreo, o internacional alemão cobre mais espaços que Hoger e dá outra dinâmica à circulação de bola e pensamento ofensivo da equipa, o peruano é dotado de recursos técnicos que Chinedu Obasi não possui e o internacional suiço é um jogador que acrescenta mais poder de fogo de meia-distância ao ataque da equipa orientada por Roberto Di Matteo.

As contas são fáceis de fazer. Sendo realista, o Sporting precisa de bater o Schalke em Alvalade (a equipa demonstrou argumentos que me fazem acreditar que esse será o desfecho final do jogo de Alvalade) e precisa que aconteça um de dois cenários:
– vence o Maribor e o Chelsea em Stamford Bridge e espera que o Schalke escorregue na deslocação à Eslovénia ou na deslocação a Inglaterra.
– vencendo o Schalke, vence o Maribor e espera que os alemães não consigam melhor que 1 ponto nessas duas deslocações. Imperiosa será a vitória frente aos alemães daqui a duas semanas.

Resumo da 3ª eliminatória da Taça

No jogo grande da ronda, disputado no Estádio do Dragão, o Sporting de Marco Silva voltar a demonstrar muita ambição perante um FC Porto de Lopetegui completamente desarrumado, desorganizado e acima de tudo intranquilo.

O Sporting mereceu por completo a vitória. Foi a equipa com mais ocasiões de golo, voltou a entrar em campo (assim como já o tinha feito no jogo a contar para o campeonato) com mais ofensividade, com mais força e com mais assertividade no meio-campo, quer no posicionamento, quer na batalha das 2ªs bolas e ressaltos, quer nos processos de construção de jogo, quer na pressão. Ao pressionar alto nos momentos-chave do jogo, a equipa orientada pelo antigo técnico do Estoril, condicionou desde logo a saída de bola a partir de trás da equipa nortenha, e limitou-se a aproveitar cabalmente duas falhas de Ivan Marcano e Casemiro. Se no lance do primeiro golo, o espanhol poderia ter feito muito melhor (não tendo opositores nas costas só teria que ter deixado aquela bola para a saída dos postes de Andrés Fernandez), no lance do golo de Nani, o brasileiro ficou muito mal na fotografia ao cometer um erro que decerto nem um iniciado o faria.

Este Porto de Lopetegui é uma equipa bastante segura. Defensivamente, a equipa não consegue fazer a devida pressão tanto no meio-campo como na defensiva. Se a dupla Adrien e João Mário jogaram e organizaram o que quiseram durante os 90 minutos por inexistência de pressão a meio-campo por parte de Herrera e Casemiro, Nani, por exemplo, jogou com total liberdade, não sendo pressionado imediatamente assim que tinha bola. Logo ao primeiro minuto poderia ter marcado naquele remate que embateu no poste de Andrés Fernandez, e ao 38º minuto marcou, aproveitando a falha do antigo jogador do Real Madrid devidamente explorada por Freddy Montero, sem que qualquer opositor nas imediações saísse imediatamente ao seu encontro para condicionar ou até mesmo bloquear o remate.

Ao nível ofensivo, os efeitos da rotatividade fazem-se sentir. Este Porto para já não tem quem carregue o piano, ou seja, não tem um verdadeiro organizador de jogo a meio-campo, capaz de ir buscar a bola aos centrais, pegar no jogo a meio-campo e organizar o jogo da equipa com criterio. No sector ofensivo, é uma equipa cujos jogadores ainda não sabem bem que terrenos ocupar. Quintero começou no meio mas encostou-se várias vezes ao flanco direito. Adrian deveria ter começado na esquerda, mas foram várias as vezes em que tentou colocar-se nas costas de Jacksou ou explorar o flanco direito, Oliver acabou por descair muitas vezes para o flanco esquerdo quando Adrian tentou procurar outros terrenos. A mobilidade é defendível em qualquer equipa, mas, a de Lopetegui peca por desposicionalidade. A equipa está desrotinada, facto que é motivado pela não-utilização de vários jogadores de forma consistente por vários jogos. À falta de rotinas teremos que somar, a falta de um organizador de jogo e as constantes perdas de bola que esta equipa promove no passe. Tudo défices provocados pela inexistência de rotinas. E as rotinas de jogo só se atingem quando existem: 1. um onze base previamente definido e trabalhado pelo treinador. 2. quando todos os jogadores sabem o que é que o treinador e os seus colegas esperam de si ao nível de posicionamento, funções, mecanismos, movimentos e comportamentos. 3. quando o modelo é finalmente trabalhado em conjunto. Se Lopetegui quer inserir um modelo parecido com o modelo do tiki taka no qual todos os jogos são controlados pelo domínio na posse de bola, isso implica que a equipa começasse antes de qualquer outro departamento de jogo, a treinar uma apurada circulação de bola, coisa que, de momento, não está nem por sombras optimizada nesta equipa do FC Porto.
E isso viu-se no sábado frente ao Sporting. Sempre que a equipa do Sporting pressionou e tapou as linhas de passe, quer na saída pelos centrais, quer no meio-campo, Herrera e Casemiro falharam imensos passes e a equipa do Porto tentou invariavelmente, porque a linha defensiva montada por Marco Silva assim o permite, jogar a bola para as costas da defesa. Foi graças a esse tipo de jogo que o Porto criou as suas maiores oportunidades de golo. Na 1ª parte Adrian apareceu por uma vez na cara de Patrício (na segunda, um assistente de Jorge Sousa assinalou mal fora-de-jogo) e Jackson aproveitou as facilidades concedidas pelos centrais do Sporting (não só o puseram em linha como nenhum deles estava a marcá-lo) para fazer o golo do empate.

Na segunda-parte, o momento decisivo foi claramente o penalty falhado por Jackson (discutível e precedido de posição irregular do avançado) quando a equipa do Porto estava próxima de obter o empate. Pode-se dizer que esta poderia ter beneficiado novamente de uma grande penalidade (com expulsão) a castigar um braço na bola de Jonathan Silva. Admito que sim. Ao cortar o livre com os pés, o jogador do Sporting demonstra uma certa intencionalidade de erguer os braços e aumentar o volume do corpo para não deixar passar aquele livre de qualquer maneira. No entanto, tal resultado seria injusto para aquilo que o meio-campo do Sporting fez (William recuperou muitas bolas e foi sereno na hora de iniciar as transições ofensivas do Sporting, ora guardando muito bem a bola quando não teve linhas de passe, ora abrindo o jogo por várias vezes para os flancos; Adrien e João Mário foram duas formiguinhas tanto no plano ofensivo como no plano defensivo; os três pressionaram imenso durante toda a partida, obrigando o meio-campo do FC Porto a errar; e sempre que o Porto furava a pressão do meio-campo do Sporting, tanto Adrien como William não tiveram pejo nenhum em matar vários lances ofensivos da equipa de Lopetegui com pequenas faltas a meio-campo impassíveis de sanção disciplinar).

Depois do penalty de Jackson, entraram Tello e Brahimi. O argelino foi duramente travado por Cedric. O lateral do Sporting fez duas faltas preciosas sobre o argelino que num lance individual, rodeado de vários jogadores do Sporting na área, quase fez o empate. Do outro lado, Jonathan Silva recorreu sempre à falta quando viu a sua posição ameaçada, demonstrando que esta equipa do Sporting não é de modas no que toca à agressividade.
Marco Silva respondeu com a entrada de Slimani para o lugar de Freddy Montero. Montero foi muito trabalhador. Não recebeu muito jogo na área, preferindo sair fora desta para colaborar com a circulação de jogo da equipa e abrir espaços, sobretudo para as incursões de Nani pelo corredor central\área. Nani, João Mário e Cedric entendem-se às mil maravilhas pelo flanco direito. E dos pés do argelino, nasceria o último golo da partida. O trabalho individual (com os pés) de Slimani frente a Marcano é fantástico (mostra a evolução que Marco Silva está a fazer com o jogador) oferecendo literalmente o golo a Carrillo que aparece muito bem na área para colher o ressalto vindo do remate do argelino.

Na Covilhã, os Leões da Serra, equipa da 2ª liga, colocaram imensas dificuldades ao plano B de Jorge Jesus para esta temporada e estiveram muito perto de fazer Taça. Excelente exibição da equipa orientada por Francisco Chaló. O Sporting da Covilhã não se deu como batido após o lance do primeiro golo, colocou muita intensidade no seu jogo, saíndo muito bem em transições rápidas, aproveitando os erros do adversário (especialmente de Loris Benito no lance do primeiro golo) e foi uma equipa extremamente pressionante em redor da sua área. Quase sempre, durante o primeiro tempo, sempre que um jogador do Benfica tinha a bola era imediatamente pressionado por um ou vários jogadores da equipa serrana.

Claro está que estas equipas são incapazes de aguentar estes ritmos de jogo mais do que 50 ou 60 minutos. A quebra física dos homens da Covilhã, permitiram que Pizzi e Jonas resolvessem o jogo com duas lindas jogadas de ataque.

Fiquei com boa impressão de 3 jogadores do Sporting da Covilhã: o trinco Nana K (sempre muito agressivo embora faltoso), o médio Traquinas e o médio que entrou para o lugar de Nana K depois deste ter visto o amarelo e não se ter controlado nas faltas (Checa; ex-Sporting de Braga B). Pareceram-me claramente jogadores com nível para alinhar na 1ª Liga.

O jogo da Covilhã deu também para entender que Jorge Jesus tem um plantel muito curto e com poucas soluções. Jonas afirmar-se-á como titular nesta equipa do Benfica. É um jogador com uma capacidade de trabalho imensa. Pizzi é uma interessante alternativa quer nas alas, quer nas costas do ponta-de-lança. Ola John poderá num ou noutro momento vir a ser decisivo com uma das suas arrancadas em velocidade. Bebé precisa de mais minutos e consequentemente mais entrosamento com os companheiros. Gonçalo Guedes, apesar de verdinho, é um jogador que tem condições para entrar na rotação do Benfica.

Por outro lado, César e Benito são jogadores sem nenhuma classe para actuar na equipa encarnada.

Os tomba-gigantes…

Foram 5 as equipas de 1ª liga que caíram. Porto e Arouca perderam naturalmente frente a adversários do mesmo escalão (Sporting e Vitória de Setúbal, respecticamente). Estoril, Boavista, Académica tombaram frente a equipas de escalões secundários.

O Estoril de José Couceiro, equipa europeia, perdeu no Estádio do Mar frente ao Varzim do Campeonato Nacional de Séniores. A turma poveira, apesar de ser um natural candidato à subida de divisão nas zonas norte desta competição (está em 2º na Série B), é uma equipa que tem passado por graves problemas financeiros nas últimas temporadas, e deverá ter os seus dirigentes a rezar para que o sorteio da 4ª eliminatória traga um grande ao Estádio do Mar ou a realização de um jogo na casa de Benfica ou Sporting. Os estorilistas poderiam ter na Taça uma excelente oportunidade para esta temporada visto que, pelo campeonato, dadas as ambições e até os planteis de Braga, Marítimo e Guimarães terem muito mais qualidade que o estorilista, muito dificilmente conseguirá a equipa da linha mais do que um campeonato tranquilo a meio da tabela.

Escandalosa foi a goleada de 4-1 sofrida pela equipa de Petit na Vila das Aves frente aquela equipa da 2ª Liga. A equipa Boavisteira até entrou melhor na partida com um golo de Idris aos 6″ mas teve dois momentos na partida que a arrasaram por completo: o final da primeira parte (dois golos de Higor Platiny aos 30 e 45+2″) e um arranque de segunda desastrosa com mais dois golos do Aves.

Escandalosa também foi a eliminação da Académica no terreno do Santa Maria (Barcelos). A equipa de Galegos de Santa Maria, militante na Serie B do CNS, é uma equipa que aposta imenso na Taça. Na última época, equipa na qual fez a sua formação Hugo Vieira, em 2013\2014 eliminou ali, no Estádio das Devesas, o Nacional da Madeira por 1-0 (ficando perto de eliminar o Setúbal no Bonfim na eliminatória seguinte) e na época anterior.

De entre as 13 equipas da 2ª liga presentes na ronda (5 já tinham sido eliminadas na 2ª eliminatória; Santa Clara, Académico de Viseu, União da Madeira, Leixões, Farense e Portimonense), a Taça trouxe mais 4 eliminações, quase todas em confronto directo entre equipas deste escalão. O Atlético já tinha eliminado o Beira-Mar na Tapadinha por 3-0 na sexta-feira. A Olhanense foi eliminada no Algarve pelo Oriental de Lisboa. O Tondela forçou o Penafiel da 1ª liga às grandes penalidades no Estádio 25 de Abril e Sporting da Covilhã foi eliminado pelo Benfica.

Já não continua em prova qualquer equipa dos distritais do futebol português. As equipas dos distritais tem acesso à Taça pela vitória na Taça de cada distrito. As últimas equipas a cair foram o Amora da AF de Setúbal (derrota na Feira por 5-1), o Real Massamá da AF Lisboa (perdeu 2-1 em Barcelos frente ao Gil Vicente num jogo que foi muito complicado para a equipa de José Mota; o Real empatou o jogo aos 80 minutos e o Gil só venceu graças a um golo de Diogo Viana aos 87″) e o Alcaíns da AF de Castelo Branco, equipa que foi goleada em Braga por 4-1.

A remodelação de Santos

Não me chocou nadinha a remodelação pincelada pelo novo seleccionador nesta primeira fase de chamadas. Não considero que o novo seleccionador tenha revolucionado ou renovado o quer que seja com a inclusão de jogadores que neste momento acrescentam experiência (a média de idades dos convocáveis até subiu quase 2 anos para os 29) e qualidade (derivado da forma que alguns atravessam nos seus clubes, caso de José Fonte, Ricardo Carvalho ou Tiago). O momento é duro e obriga a selecção a uma resposta fortíssima contra a França e contra a Dinamarca. Se o primeiro, amigável, servirá para Fernando Santos testar o lado esquerdo da defesa (Antunes e Eliseu deverão jogar meio tempo cada um; pessoalmente prefiro a regularidade de processos do jogador do Málaga à instabilidade defensiva e dificuldade que o jogador do Benfica tem nos processos defensivos, em específico na defesa 1×1 e no posicionamento; jogar para as costas de Eliseu parece tarefa fácil para qualquer flanco direito adversário da equipa de Jorge Jesus), experimentar tacticamente os re-seleccionados e dar minutos internacionais a jovens que indiscutivelmente irão ganhar o seu espaço nos convocados, casos de André Gomes, Ivo Pinto e João Mário, o segundo, a doer, obriga, pela obrigação de nos qualificarmos para o Europeu, a um tratamento de choque que só pode ser realizado por quem neste momento tem a experiência e a forma necessária para enfrentar este tipo de desafios. Danny, Quaresma, Tiago e Carvalho são jogadores habituadíssimos a lidar com esse tipo de pressão e tem todas as condições no momento para cumprir os objectivos que (volto a considerar) obrigatórios para uma selecção do nosso nível.

Quanto aos que ficaram de fora: Não tenho uma única crítica a fazer contra o seleccionador nacional. Saíram todos aqueles que estão a mais (só Paulo Bento é que continuava a chover no molhado) e aqueles que para já, não tem neste de perto nem de longe o estatuto de seleccionáveis para a AA, casos de Cavaleiro, Ricardo Horta. Juntando a estes, Ruben Vezo também foi preterido por causa dos compromissos da selecção de sub-21 (playoff de apuramento para o Europeu do escalão frente à Holanda. Se os dois primeiros não tem espaço nesta selecção, assim como Pedro Tiba (claramente a 6ª opção para a posição depois de Adrien, João Mário, Moutinho, André Gomes e Raúl Meireles), já Ruben Vezo tem lugar nesta equipa pelas exibições de altíssimo nível que tem realizado em Valência e pelo facto de Pepe e Ricardo Carvalho estarem bastante perto do adeus à selecção (o primeiro poderá renunciar em 2016, o segundo pode nem sequer jogar esse Europeu caso seja novamente achatado a lesões).

Crónica #15 – Sporting 0-1 Chelsea

O super poderoso Chelsea cumpriu a sua obrigação (enquanto principal favorito ao primeiro lugar do grupo e candidato à vitória na Champions) de vir vencer a Alvalade o Sporting. Se por um lado, pelas oportunidades de golo flagrantes que tiveram ao longo dos 90 minutos, os Blues mereceram a vitória e até justificaram vencer de forma mais expressiva, não é menos verdade que pelo futebol praticado no 2º tempo e por lances onde a equipa leonina poderia ter marcado, o Sporting também fez pela vida e lutou para merecer o empate.

Homem do jogo foi claramente Rui Patrício. No lance do único golo da partida, o difícil cabeceamento ao 2º poste de Matic foi indefensável para o guarda-redes português. Contudo, Patrício podia ter feito mais na abordagem ao cruzamento. Como hesitou permitiu que a bola chegasse em boas condições ao sérvio. A culpa do golo sofrido não deve de maneira alguma ser imputada nem ao guarda-redes nem a Jonathan Silva, o jogador do Sporting encarregue de vigiar Matic e proteger o 2º poste mas sim ao desleixo cometido por Marco Silva na preparação das bolas paradas defensivas: sendo Matic um dos melhores cabeceadores deste Chelsea, nunca poderá aparecer praticamente sozinho ao 2º poste ou sem um marcador capaz de ombrear no jogo aéreo com o médio defensivo do Chelsea.

Devido ao normal nervosismo derivado do facto de estar a jogar contra uma das grandes equipas europeias, o Sporting deu 45 minutos ao Chelsea para colocar no relvado de Alvalade a sua mais poderosa arma: as rápidas transições para o ataque e os fortíssimos lançamentos para as costas da defesa, onde Diego Costa (sempre muito bem municiado por Óscar e Hazard) ou Andre Schurrle se sentiram como peixes na água. Aproveitando situações de perda de bola do meio-campo do Sporting, os jogadores do ataque do Chelsea foram objectivos a lançar estes dois jogadores nas costas dos defensores leoninos. Marco Silva voltou a pedir à sua defesa que subisse rápido no terreno para deixar os avançados contrários em fora-de-jogo, mas, em algumas situações estes não foram rápidos a fazê-lo permitindo que Diego Costa aparecesse a receber a bola (ora através de passes a rasgar por parte de Óscar, ora através de passes a rasgar de Eden Hazard com o brasileiro a executar as suas famosas e eficazes diagonais) e o alemão a aproveitar da melhor forma o espaço em vazio que Jonathan Silva deixava no flanco fruto das suas agressivas subidas no terreno, que, teimosamente não voltaram a ser cobertas por um dos médios interiores como de resto já tinha acontecido na 2ª parte do jogo contra o Porto. Quando Jonathan Silva sobe em demasia no terreno e não consegue recuperar, o espaço é quase sempre fechado por Naby Sarr que, ao fazê-lo descompensa a área, deixando quase sempre Maurício para 2.

No ataque, o problema começou em William. No primeiro tempo, o jogador não só não conseguiu cobrir os espaços que habitualmente controla como não recuperou bolas e exibiu-se a um péssimo nível no capítulo do passe e da contenção de bola quando a equipa necessitava que, em vez de tresloucadamente passar a bola para o primeiro colega que visse, guardasse mais a bola e deixasse a equipa recompor-se posicionalmente de forma a conseguir construir uma jogada com nexo. Nas alas, Felipe Luis e Branislav Ivanovic estiveram exímios na marcação a Carrillo e a Nani através de uma pressão instantânea sempre que estes dois recebiam a bola e na própria abordagem defensiva. O português não levou a melhor sobre o sérvio em nenhum drible contra ele intentado no primeiro tempo e o peruano nunca conseguiu receber e virar-se para a baliza contrária, optando quase sempre por devolver a bola ao passador ou encaminhá-la para Adrien ou João Mário. Só no segundo tempo, já com o Chelsea a gerir a vantagem com um recuo de linhas defensivas promovido por José Mourinho e com uma estratégia clara de, recuar, defender bem e sair rapidamente no contragolpe através de lançamentos longos, é que vimos Carrillo e Nani mostrar a sua expansividade no drible. O peruano fez três arrancadas loucas que suspiraram bruás de Alvalade, tendo sido uma delas travada inextremis por Gary Cahill à entrada da área inglesa e o português, tirou do sério Felipe Luis pela ala esquerda, obrigando o brasileiro a cometer duas faltas que a meu ver seriam motivo para a sua expulsão por acumulação de amarelos: a primeira quando o árbitro não assinalou um empurrão ostentivo à entrada da área e a segunda no lance junto à linha no qual o antigo jogador do Atlético de Madrid recebeu o seu único amarelo da partida depois de ceifar sem piedade o jogador português.

O próprio Jonathan Silva mostrou muita garra nas duas situações em que conseguiu recuperar a bola no seu flanco e correu desalmadamente com ela em slaloms por entre adversários. O argentino revela-se cada vez mais como um jogador raçudo que, apesar de apresentar algum défice a defender, compensa no plano ofensivo. Para além de ser destemido, vertical e objectivo na subida com bola pelo flanco, é um jogador que tem um excelente cruzamento para a área, factor que pode ser importante dado o poder de fogo de Slimani no jogo aéreo.

Com Adrien a acelerar muito bem a meio-campo e muito assertivo no capítulo do passe e João Mário, ao lado, a dar muita luta no meio-campo, critério e organização no pensamento dos ataques leoninos, faltou ao Sporting novamente créditos na altura de finalizar. Slimani teve uma bola na sua cabeça passível de golo. Nani baqueou na área num lance em que ficou na cara de Courtois, Freddy Montero esteve perto do golo quando ao primeiro poste (solto de marcação) atirou ao lado e Nani, poderia ter chegado ao golo do empate naquele lance típico que tem evidenciado desde que chegou a Portugal no qual recebe na direita, puxa a bola para o meio e remata com pompa com o pé esquerdo. Assim como, do outro lado, aproveitando os erros de Naby Sarr no posicionamento, Oscar e Diego Costa poderiam ter sido mais eficazes na cara de Rui Patrício.

Uma luta particular nesta partida foi a luta travada entre Eden Hazard e Adrien. Na primeira parte, o lateral deixou o criativo do Chelsea à solta. Das suas acções individuais resultaram duas bolas importantíssimas: uma que Schurrle falhou na cara de Patrício depois de o tentar contornar e outra nos pés de Diego Costa. Na segunda parte, o lateral formado em Alvalade cerrou os dentes e como se diz na gíria “pegou o touro pelos cornos” – Hazard não teve tantas veleidades para meter o seu fortíssimo drible curto e para flectir para o meio da ala esquerda, movimento onde causa muito perigo com os seus milimétricos passes a rasgar.

Uma exibição de alto nível foi a que Nemanja Matic realizou em Alvalade. Com Mourinho, o sérvio cresceu ainda muito mais. Se com Jesus foi requalificado como um médio defensivo de excelência, sempre presente na cobertura de espaços no miolo e começou a conseguir sair a jogar com toda a pompa e circunstância, rompendo as primeiras linhas de pressão com bola sempre que nenhum colega lhe oferecesse uma linha de passe segura, com Mourinho, o sérvio já funciona quase como um box-to-box, fazendo tudo o que aprendeu com Jesus e acrescentando uma capacidade até aqui desconhecida, a capacidade de imiscuir-se no último terço do terreno com o esférico na sua posse a alta velocidade, capaz, também ele de poder construir situações de finalização para os seus companheiros em situações de manifesta falta de mobilidade dos seus companheiros para criar as tais linhas de passe.

Maurício fez dois cortes providenciais a Diego Costa em acções do hispano-brasileiro e saiu graças a uma atitude muito inteligente: sabendo que dali poderia ter surgido o 2-0 (matava o jogo) para o Chelsea, sendo o último defensor do Sporting cometeu uma falta inteligente ao ceifar o jogador do Chelsea. A eventual expulsão do brasileiro nesse lance é discutível. A regra para estes casos é a seguinte: se corta um lance iminente de golo, o árbitro tem que expulsar. Se não corta um lance iminente de golo, o árbitro deve mostrar apenas o cartão amarelo. Como era o último defensor, o vermelho directo aceitava-se. Mas como Cedric ainda estava no enfiamento da jogada (as imagens do lance mostram o lateral num acto preventivo a correr para o lado onde Diego Costa tinha adiantado a bola caso Maurício fosse ultrapassado para o brasileiro) e o lance faltoso foi cometido muito longe da baliza, também se aceita o amarelo. Qualquer acção disciplinar neste lance depende da interpretação do árbitro da partida.

Ao nível da arbitragem, o árbitro espanhol Mateu Lahoz mostrou alguma dualidade de critérios nos amarelos exibidos às duas equipas, esteve muito mal quando decidiu “não ver” o empurrão de Felipe Luis a Nani (se esta primeira falta é assinalada, o brasileiro recebe aqui o primeiro amarelo, sendo expulso na 2ª falta sobre Nani), existiu outro lance onde fiquei com dúvidas: num lance em que Carrillo tenta passar por Cesc Fabrègas dentro da área. O médio inglês não joga a bola e ceifa o extremo peruano.

Nota final para o regresso a Alvalade de José Mourinho – o técnico português bem ao seu estilo, recheou os 90 minutos de muito showoff. Ora a falar com os bombeiros aquando do golo do Chelsea, ora no final quando deixou Marco Silva de mão estendida para ir cumprimentar Rui Patrício. Ao seu estilo!

Da eslovénia

1. Confesso que fiquei novamente defraudado com a exibição do Sporting. Pensei que durante a semana, o presidente tivesse cometido a graciosidade de ir dar uma palavrinha mais ríspida aos jogadores de modo a alterar a sua atitude, mas, ao fim ao cabo, a atitude foi a mesma, os erros cometidos foram exactamente os mesmos que se tem cometido até aqui, e a qualidade da equipa, neste momento, está longe de ser a melhor.

2. Tenho lido por aí a opinião que Naby Sarr tem o mesmo potencial de Mangala quando chegou ao Porto. Depois de observar o jogador atentamente durante estes 5 jogos oficiais, não posso concordar. Quando chegou ao Porto, Mangala já era internacional sub-21 pela frança e titular indiscutível de um clube de nível médio com aspirações crónicas ao título nacional belga (o Standard de Liège) – o outro é internacional sub-20 pela França mas ao nível do seu antigo clube (Olympique Lyonnais) apenas jogou em 6 ocasiões na temporada passada, passando grande parte da época a jogar pelas reservas do clube. Acresce também o facto do Olympique Lyonnais ter apostado nos últimos anos na sua formação, em virtude das dificuldades financeiras e desportivas que atravessa n0 hiato cavado com a perda do título nacional francês em 2009\2010 após 7 épocas vitoriosas. Se um jogador formado na casa não actua com regularidade no clube quando este está claramente virado ao nível estratégico para apostar nessa mesma prata da casa e é vendido a um clube português por 1 milhão de euros mais objectivos, é sinal que esse mesmo clube não vislumbra futuro no jogador. Se um chegou ao Porto e a princípio cometeu alguns erros, erros que deverão ser considerados como normais na adaptação do jogador à sua nova realidade, mas rapidamente trabalhou para colmatar as lacunas do seu jogo (foi notória a evolução de Mangala ao nível posicional, ao nível de tomadas de decisão, ao nível da diminuição da impetuosidade com que abordava os lances; escondendo de certo modo as limitações que apresenta ao nível de jogo para as suas costas dada a falta de velocidade inerente à sua envergadura física com um sentido posicional exímio), tornou-se o patrão indiscutível da defesa do clube e foi vendido, literalmente, por uma pipa de massa. De Sarr não temos visto mais do que um central lento, extremamente permissivo, com imensas dificuldades em recuperar no terreno quando o avançado contrário é solicitado em desmarcação nas suas costas, fraquíssimo técnicamente, com um nível de decisão nos lances de bradar aos céus (mesmo quando é chamado a desarmar, fá-lo de forma sofrível; no lance do golo do Maribor estava sozinho e tinha tudo para, pelo menos, cabecear para a frente) e com pouca habilidade para sair a jogar. Comparar Mangala quando chegou ao Porto ao actual estado de Naby Sarr e às exibições com que nos tem brindado neste arranque de temporada é como comparar Jesus Cristo ao anjo Lucifer.

3. Estava sozinho. Poderia ter feito tudo: cabecear para a frente, para o guarda-redes, para as alas, para fora. Menos para o lado onde estava o adversário. Maurício ajudou. De Maurício tenho dito: não esperemos muito. Fiel a si próprio é um central duro à moda antiga. Também não sabe avaliar a abordagem ideal que deve ter aos lances, falha que o leva a cometer faltas em lances que não constituem perigo. Dá Pau para todos os gostos quando não deve dar, ficando passivo nas jogadas em que deve brindar o adversário com uma castanhada a doer. Ontem, conseguiu ajudar Sarr a dar 1 ponto e 500 mil euros de prémio ao modesto Maribor da Eslovénia…

4… que é, à semelhança do Sporting uma equipa que não tem qualidade para estar na Champions. Defenderam muito bem e capitalizaram a falta de velocidade no jogo do Sporting, a falta de ambição, os sucessivos passes falhados que Adrien e William fizeram na primeira fase de construção da equipa, a falta de sincronização entre os elementos do ataque do Sporting. Começaram a acreditar que podiam vencer e em duas ou três situações só não marcaram porque estava lá Patrício ou o São Poste.

5. O que é que se passa com Adrien, William, Jefferson, André Martins Carrillo? – Se o primeiro anda a brindar-nos com jogos cheios de passes falhados atrás de passes falhados e o segundo tem jogos em que consegue batalhar e ganhar muitas bolas no meio-campo, outros em que todas as bolas lhe passam ao lado e, todos, em que não consegue meter 10 passes a 5 metros no início da construção da equipa após recuperação de bola, é caso para perguntar se estes dois jogadores andam com a cabeça em Alvalade. A resposta é simples: não.

Outro que não tem andado entre nós é Jefferson. Marco Silva já deveria ter colocado Jonathan Silva na esquerda da defesa. Nem que a escolha tivesse como propósito afectar o orgulho do brasileiro. Jefferson está a revelar falta de concorrência na sua posição. Defende mal (dá um espaço enorme ao ala contrário para manietar a bola de acordo com a sua vontade; não fecha ao meio, no ataque nem cruza nem mija nem tosse; Jefferson anda por ali a correr desenfreadamente com a bola pela linha até que ele saia do terreno de jogo).

Os dois últimos são dois case-studies de valor para qualquer psicológo interessado na área desportiva. O primeiro faz grandes pré-temporadas. Terminando os jogos de preparação ausenta-se do campo durante 12 meses, limitando-se a correr por lá de vez em quando. Já foi testado por Jardim como um médio interior cuja função era ligar o jogo de Adrien (médio interior mais à esquerda) ao flanco direito do ataque. Combinava bem com Cedric e Wilson Eduardo na temporada passada. Foi desaparecendo aos poucos. Com Marco Silva tem jogado numa posição mais central à entrada da área como apoio pelo miolo a Slimani. (Como seria importante o Sporting ter um jogador que desequilibrasse pelo centro para o jogo não ser tão previsível de ver à equipa contrária!!). Sempre que pode, André Martins vai para a direita e desaparece de jogo.
Do peruano, conhecemos a experiência de um jogador que faz 1 jogo bom a cada 5 horríveis. Não jogando na esquerda perde uma interessante característica de jogo que executa bem: as incursões na área em drible do flanco esquerdo para o meio seguidas de remate ao 2º poste. Jogando na direita, contra equipas, como foi o caso do Maribor, cujos treinadores estudem bem o jogo do peruano, basta colocar o lateral a pressioná-lo assim que recebe a bola para o jogador prender e congelar qualquer jogada que o Sporting tente executar pelo seu flanco.

Em 3 meses no comando técnico do Sporting, a equipa não tem estabilidade defensiva, tem dois centrais que não são capazes de sair a jogar e com isso furar as primeiras linhas de pressão adversárias, um meio campo intermitente que é muito batalhador mas não é eficaz na recuperação de bola, na pressão a meio campo e na distribuição de jogo, um fio-de-jogo demasiado flanqueado e previsível (por isso é que Nani sempre que pode vem buscar a bola ao centro) que, à falta de pior, não consegue sequer colocar a bola em condições na sua referência atacante. Do trabalho do antigo técnico do Estoril salva-se apenas a lucidez que João Mario acrescenta ao jogo do Sporting sempre que entra, descobrindo boas soluções de passe, flanqueando o jogo com velocidade nos momentos em que a equipa tem superioridade numérica no flanco, e a evolução que o treinador está a tentar realizar na criação de desequlíbrios ao nível do miolo com as tentativas que tanto Nani como Mané fazem em tentar furar pela zona central em tabelinhas. A juntar à negativa e penosa circulação de jogo que tem que passar por toda a gente até se criar uma jogada digna de registo, há uma imensa falta de vontade de alguns jogadores permanecerem no clube aliada a uma falta de preparação física enorme de alguns jogadores.

Enquanto a equipa estiver a jogar a este nível, não vai muito longe. Numa competição como a Champions, todos os erros serão capitalizados pelo adversário. Se ontem, o Maribor não aproveitou para construir uma vitória algumas desconcentrações defensivas, não se espere por Alvalade que tanto o Chelsea como o Schalke sejam perdulários quando jogarem contra o Sporting. Medindo o actual estado do futebol leonino e o potencial das duas equipas, pode vir Bruno de Carvalho afirmar quantas vezes quiser que o objectivo é passar a fase-de-grupos. Não o conseguirá nem que a vaca tussa. Tomara até que não sejamos goleados em Inglaterra e na Alemanha.

De Alvalade – anotamentos

1. três ofertas. A oferta feita pela defensiva leonina no golo do Belenenses; a retribuição em espécie da defensiva de belém no golo de Carrillo e os 45 minutos de oferta (com bónus de um futebol previsível durante o 2º tempo) que o Sporting deu na primeira parte de um jogo que se pretendia de vitória tranquila.

2. Na 2ª parte.

2.1 a intranquilidade clara de Naby Sarr. Nas suas costas Deyverson apareceu duas vezes na cara de Rui Patrício, precisamente em dois lances onde o posicionamento do lateral francês deixou a desejar e este demonstrou uma clara falta de velocidade para acompanhar o avançado do Belenenses. Noutra situação, ao desarmar um adversário colocou a baliza do titular da selecção em perigo com um autêntico balão para a sua área. Em duas situações, o francês esqueceu-se que o seu guardião não dá uma para a caixa com o pé direito. Não hesitou em colocar a bola para esse mesmo lado nas duas situações.

2.2 A mecânica de um jogo flanqueado altamente previsível – Se fosse treinador do Belenenses deixaria os extremos do Sporting cruzar à vontade. Em mais de 10 situações em que a bola previsivelmente foi parar aos pés de Nani, Esgaio, Capel e Jefferson, todos conseguiram ter espaço para conseguir centrar para a área mas não conseguiram colocar a bola com peso e medida para a cabeça de Islam Slimani…

2.3Que… Foi inversamente solicitado pelos seus colegas para efectuar tabelinhas pelo centro do terreno. Carlos Mané e Nani, este último quando saiu para direita para o centro do terreno, por várias vezes tentaram criar com recurso a tabelas com o seu ponta-de-lança. O internacional português pecou novamente por excessivo individualismo.

2.4 – Qual é mesmo a posição de Nani?

2.5 – Uma equipa que pretende ser campeã não pode falhar tantos passes – Esgaio, Adrien e William Carvalho. Ineficácia por demais.

2.6 – Uma equipa que pretende ser campeã não pode falhar tantas oportunidades de golo – Capel foi novamente o mais esforçado dos atletas leoninos. É justo criticar o extremo espanhol nas limitações várias que apresenta a sua forma de jogar. Porém, jamais lhe deverão criticar o profissionalismo e o esforço que emprega em todas as partidas. Esteve perto de marcar de cabeça ao 2º poste mas João Afonso tirou-lhe o pão da bola. Se no outro lado do rectângulo de jogo, Deyverson falhou duas vezes na cara de Patrício, deixando no ar a sensação que o Belenenses facilmente poderia ter retirado 3 pontos de Alvalade, na área de Matt Jones, a equipa leonina foi altamente perdulária. Esgaio deveria ter feito mais quando tinha tudo para desfeitiar as redes do guardião inglês, Slimani permitiu-lhe uma excelente defesa, Nani viu um remate certeiro bloqueado e nos últimos momentos da partida, a cortina defensiva do Belenenses impediu o tardio golo da vitória.

2.7Slimani… fez penalty na área leonina num canto do Belenenses. Se não estou em erro sobre João Afonso. Erro ou não da primeira parte, é bem visível o puxão do argelino ao jogador do clube da cruz de cristo.

2.8 – No contra-ataque – Não considero que esta forma de jogar seja a arma dos mais fracos quando visitam o terreno das equipas com maior gabarito. Cada equipa joga com as armas que dispõe para prosseguir os seus objectivos. A equipa de Lito Vidigal mostrou que tem o seu contragolpe bem oleado. Com lançadores tecnicamente hábeis como Miguel Rosa (o patrão da equipa) e Bruno China e um homem rápido na frente como Deyverson, esta pode ser a solução que Lito Vidigal idealizou para cumprir os objectivos a que se propôs na presente temporada. O brasileiro precisa apenas de trabalhar a sua finalização.

3. Cosme Machado – À excepção do lance acima enunciado, o árbitro da AF de Braga analisou com correctidão 90% dos lances que mereceram a sua atenção. No final da partida borrou a pintura toda quando expulsou Jefferson com o 2º amarelo num momento peculiar da partida em que o lateral-esquerdo conjuntamente com Nani tentaram puxar um adversário para fora do campo quando este tentava, de forma lógica para quem conhece profundamente as manhas do jogo, simular uma lesão e praticar anti-jogo. Não bastasse a profunda estupidez de expulsar o lateral do Sporting, não cumprindo o mesmo critério disciplinar com o colega que ajudou a praticar a acção (Nani) ainda cometeu a idiotice de empurrar ostensivamente o jogador do Sporting. A atitude demonstrada pelo árbitro de Braga perante as leis da FIFA (agressão a um jogador) e só e somente passível de um castigo que vai de 1 temporada sem exercer as funções à irradiação do ofício.

4 – Nota negativa para a equipa técnica e jogadores suplentes do Belenenses – Lito Vidigal e o seu adjunto José Luis entraram por 3 vezes dentro de campo; o banco do Belenenses passou os últimos 15 minutos de pé e chegou mesmo a atirar bolas para o relvado de forma a criar confusão num momento em que o Sporting já jogava com o credo na boca.

Breves #10

sporting 4

Sporting – Mais um exemplo da excelente gestão de Bruno de Carvalho na SAD Leonina. A Sociedade Anónima Desportiva do clube de Alvalade informou a CMVM, nas habituais informações periódicas que esta pede para efectuar cruzamento de informações prestadas ao longo do ano civil (para efeitos fiscais só contam os resultados do ano fiscal; contudo, para cruzar a informação prestada, a entidade reguladora pede às sociedades anónimas desportivas informações sobre as contas e activos destas relativas aos 4 semestres e aos resultados operacionais de cada época desportiva, resultados que são contabilizados de 1 de Julho a 30 de Junho) – a informação prestada pela SAD leonina relativa à temporada desportiva 13\14 revela que a gestão do agora presidente do clube e principal administrador da SAD leonina conseguiu reverter um resultado negativo de 43,8 milhões de euros acumulado na temporada 12\13, valor que respeita em grande parte à administração de Godinho Lopes (Bruno de Carvalho assume a presidência em Março de 2013) para um saldo positivo de 368 mil euros.

O resultado explica-se em grande parte pela redução de orçamento do futebol leonino de 40 milhões de euros para 20 milhões de euros na primeira temporada de Bruno de Carvalho na presidência do clube, e pelas receitas angariadas com as vendas de atletas como Tiago Ilori, Bruma, Eric Dier, Fito Rinaudo, Elias e Marcos Rojo e as dispensas de excedentes com salários altíssimos como Khalid Bouhlarouz, Stijn Schaars, Bojinov, Zakaria Labyad, Jeffren Suarez e Oguchi Oneywu. Deste lote de jogadores, apenas o jogador holandês Labyad pertence aos quadros do Sporting, sendo o seu salário de 2 milhões de euros totalmente suportado pelo clube ao qual está emprestado por 2 temporadas, o Vitesse. Atletas como Jeffren Suarez, Diego Rubio, Fito Rinaudo já não pertencem aos quadros do Sporting, mantendo o clube o passe de alguns dos atletas fruto dos acordos de venda realizados com os clubes onde alinham actualmente os jogadores. Wilson Eduardo e Salim Cissé estão emprestados pelo clube.

A Sporting SAD comunicou ainda (vide informação prestada no site da CMVM) a compra de 80% dos direitos económicos de André Geraldes aos turcos do Instambul BB por 500 mil euros, de 85% dos direitos económicos do búlgaro Slavchev por 2,5 milhões, o pior investimento, na minha opinião, realizado pelos responsáveis leoninos neste defeso, visto que o jogador ainda não mostrou nível suficiente para jogar na equipa leonina e confirmar positivamente o investimento feito na sua aquisição, 1,8 milhões de euros por 90 % dos direitos económicos do central Paulo Oliveira, 1,25 pela totalidade dos direitos económicos do extremo cabo-verdiano Heldon, 966 mil euros pela totalidade do trinco Rosell e 750 mil euros pela totalidade dos passes do japonês Tanaka e do senegalês Salim Cissé.

As aquisições de Ryan Gauld (3 milhões de euros), Hedi Sack (1,2 milhões de euros), Naby Sarr (1 milhão de euros com uma clásula de mais 1 milhão respeitando determinados objectivos contratualizados com o Olympique Lyonnais), Jonathan Silva (2 milhões de euros) e Ramy Rabia (600 mil euros) não foram contabilizadas na temporada desportiva 13\14 pelo facto de já terem sido consumadas após a data de 30 de Junho, passando para as contas da presente temporada.

Ao nível de aquisições de direitos económicos de atletas pertencentes aos quadros do clube, a Sporting SAD adquiriu mais 20% dos direitos do lateral Jefferson (agora com 80% do passe do lateral-esquerdo), estando em aberto até ao final do mês a possível recompra de passes de jogadores em posse de fundos de investimento como William Carvalho, André Martins, Adrien Silva, Cedric Soares, Marcelo Boeck e Rui Patrício. Os activos poderão ter um valor de recompra fixado em perto de 30 milhões de euros.

No capítulo das renovações, a Sporting SAD não tem nenhum dossier urgente até ao final da presente temporada, apesar de já ter encetado negociações com o argelino Islam Slimani e Cedric Soares. O lateral-direito já terá rejeitado 2 propostas de renovação.

Liga de Clubes – A confusão anunciada no seu site pela troca de horários efectuada nas horas do jogo Vitória de Setúbal vs Benfica revelam bem o estado de confusão em que se encontra o organismo comandado por ora por Mario Figueiredo. Para bem da organização da principal competição do futebol nacional, é bom que finalmente se esclareçam todos os celeumas que levaram à impugnação das eleições realizadas há alguns meses atrás para o organismo de modo a que finalmente se possa repetir o escrutínio, facto que poderá trazer alguma estabilidade ao organismo e às competições por este organizadas. A Liga de Clubes continua, em virtude de ter sido chumbado o orçamento para a temporada 2013\2014 a viver sem orçamento. As dívidas do organismo perante terceiros acumulam-se ao ponto de por em causa a solvabilidade financeira da organização. Só à empresa Europcar, empresa fornecedora da frota automóvel do organismo em regime de renting, a Liga deverá ter um débito em falta de 2 milhões de euros.