Momentos #28

Naquele momento em que Silvestre Varela encheu o pé com convicção e deu uma nova vida à nossa Selecção na campanha disputada na Polónia e Ucrânia.

Os dinamarqueses já nos tinham vencido em Copenhaga na última jornada da ronda de qualificação, atirando-nos para um playoff que seria disputado frente à Bósnia (também em virtude da vitória obtida pelos suecos naquele preciso dia frente à Selecção Holandesa, resultado que permitiu à turma nórdica arrebatar a posição de 2º melhor classificado de todos os grupos de qualificação). Em Lviv, os comandados de Morten Olsen estiveram a um passo de nos eliminar do Europeu, num jogo em que a nossa selecção entrou muito bem na partida com 2 golos no primeiro tempo (Pepe e Postiga) mas viria a permitir que Niklas Bendtner complicasse as coisas com dois golos ao minuto 41 e 80.

Vindo do banco aos 84″ num autêntico acto de desespero de Paulo Bento (o seleccionador trocou Meireles por Varela, passando a jogar num 4x2x4 com uma frente de ataque alargada – Varela, Postiga, Nelson Oliveira, Cristiano Ronaldo – numa altura em que os dinamarqueses poderiam ter chegado facilmente ao golo da vitória), o então jogador do Porto (agora por empréstimo aos ingleses do WBA; não convocado por Fernando Santos para este duplo compromisso) fez o 3-2 que nos permitiria sonhar com a qualificação frente à Holanda na derradeira partida do grupo.

Passados 2 anos, não tenho dúvidas em afirmar que este golo de Silvestre Varela é um dos golos mais importantes da história do nosso futebol.

A remodelação de Santos

Não me chocou nadinha a remodelação pincelada pelo novo seleccionador nesta primeira fase de chamadas. Não considero que o novo seleccionador tenha revolucionado ou renovado o quer que seja com a inclusão de jogadores que neste momento acrescentam experiência (a média de idades dos convocáveis até subiu quase 2 anos para os 29) e qualidade (derivado da forma que alguns atravessam nos seus clubes, caso de José Fonte, Ricardo Carvalho ou Tiago). O momento é duro e obriga a selecção a uma resposta fortíssima contra a França e contra a Dinamarca. Se o primeiro, amigável, servirá para Fernando Santos testar o lado esquerdo da defesa (Antunes e Eliseu deverão jogar meio tempo cada um; pessoalmente prefiro a regularidade de processos do jogador do Málaga à instabilidade defensiva e dificuldade que o jogador do Benfica tem nos processos defensivos, em específico na defesa 1×1 e no posicionamento; jogar para as costas de Eliseu parece tarefa fácil para qualquer flanco direito adversário da equipa de Jorge Jesus), experimentar tacticamente os re-seleccionados e dar minutos internacionais a jovens que indiscutivelmente irão ganhar o seu espaço nos convocados, casos de André Gomes, Ivo Pinto e João Mário, o segundo, a doer, obriga, pela obrigação de nos qualificarmos para o Europeu, a um tratamento de choque que só pode ser realizado por quem neste momento tem a experiência e a forma necessária para enfrentar este tipo de desafios. Danny, Quaresma, Tiago e Carvalho são jogadores habituadíssimos a lidar com esse tipo de pressão e tem todas as condições no momento para cumprir os objectivos que (volto a considerar) obrigatórios para uma selecção do nosso nível.

Quanto aos que ficaram de fora: Não tenho uma única crítica a fazer contra o seleccionador nacional. Saíram todos aqueles que estão a mais (só Paulo Bento é que continuava a chover no molhado) e aqueles que para já, não tem neste de perto nem de longe o estatuto de seleccionáveis para a AA, casos de Cavaleiro, Ricardo Horta. Juntando a estes, Ruben Vezo também foi preterido por causa dos compromissos da selecção de sub-21 (playoff de apuramento para o Europeu do escalão frente à Holanda. Se os dois primeiros não tem espaço nesta selecção, assim como Pedro Tiba (claramente a 6ª opção para a posição depois de Adrien, João Mário, Moutinho, André Gomes e Raúl Meireles), já Ruben Vezo tem lugar nesta equipa pelas exibições de altíssimo nível que tem realizado em Valência e pelo facto de Pepe e Ricardo Carvalho estarem bastante perto do adeus à selecção (o primeiro poderá renunciar em 2016, o segundo pode nem sequer jogar esse Europeu caso seja novamente achatado a lesões).

interessante

fernando santos 3

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O novo seleccionador nacional fez, na primeira semana, aquilo que Paulo Bento fez poucas vezes em quase 4 anos. Quantas e quantas vezes não víamos o antigo seleccionador nas bancadas da Luz a ver um Benfica recheado de estrangeiros (lembro-me de um jogo para a Champions em que o único português em campo era Carlos Martins) – dos 3 tipos de observação possíveis (directa, indirecta e mista) há treinadores que preferem fazer o seu trabalho in-loco (observação directa) para conseguir perceber com clareza o estilo de jogador que pretendem observar. No Marítimo – Vitória de Guimarães, Fernando Santos terá em campo 5\6 possíveis convocáveis a médio prazo: Ruben Ferreira (numa das posições históricas de carência das selecções AA) Danilo Pereira, Alex, Tomané, André André, Hernâni e Cafú.

os incompetentes

“(…) É certo que o treinador encontrou vários jogadores em fase descendente e não teve um leque de seleccionáveis ao nível de outros tempos, mas Paulo Bento cometeu vários erros. E provavelmente estava desgastado de mais para continuar depois do Mundial. Fernando Gomes, Humberto Coelho e João Vieira Pinto tinham obrigação de ter feito um diagnóstico correcto quando voltaram do Brasil.

Como não fizeram o diagnóstico correcto (ou não tiveram coragem para implementar a solução correcta), a demissão de Paulo Bento só pode ser vista de uma forma: mais do que a incompetência de quem sai, mostra a incompetência de quem fica.”

Hugo Daniel Sousa, na edição de sábado do Jornal Público.

Paulo Bento abandona a selecção nacional

O Seleccionador nacional rescindiu hoje com a Federação Portuguesa de Futebol. Não existia a meu ver outra opção. Depois do voto de confiança manifestado pelo presidente do organismo na renovação contratual assinada pelo técnico antes da participação da Selecção Nacional no Mundial e do novo voto de confiança manifestado após o desastre desta mesma participação, após a derrota da selecção frente à Albânia, o seleccionador não reunia condições para permanecer no cargo. O ciclo da selecção terá forçosamente que ser renovado por um novo seleccionador, com outra metodologia de trabalho, com outras ideias e outro nível de ambições.

Apesar da imprensa avançar com o nome do actual seleccionador dos sub-21 Rui Jorge como o novo seleccionador nacional (apesar do bom trabalho que está a realizar neste escalão, Rui Jorge não é para mim a pessoa mais indicada para o cargo dada a sua parca experiência enquanto treinador no escalão de séniores) creio que a melhor opção para a FPF é a contratação de um reputado técnico estrangeiro com experiência ao comando de selecções. O único nacional capaz, a meu ver, de realizar um bom trabalho é Fernando Santos, não sendo o antigo seleccionador grego uma má escolha para o cargo. No entanto, neste momento estão sem colocação treinadores que cumprem a observância deste requisito como Gerardo Tata Martino (antigo seleccionador paraguaio; Newells old Boys e Barcelona), Alberto Zaccheroni (antigo seleccionador do Japão) ou Radomir Antic (antigo seleccionador sérvio).

Alguma imprensa portuguesa inclui também na lista de potenciais candidatos ao cargo os nacional Manuel José e Vitor Pereira.

Breves #7 – Paulo Bento de saída?

Saiu há algumas horas atrás um rumor que especulava sobre o futuro de Paulo Bento no comando técnico da selecção nacional. A informação prestada dá conta de um ambiente de algum descontentamento no seio da estrutura da FPF, tendo um dos seus vice-presidentes ameaçado demitir-se caso o presidente não demita o seleccionador nacional após o voto de confiança que manifestou publicamente no seu trabalho, voto esse que foi traído no primeiro jogo da ronda de qualificação para o Euro 2016 frente à Albânia.

Especula-se que o desempenho do seleccionador estará a ser escrutinado na sede da FPF, podendo ser demitido ainda esta semana. Os nomes de Fernando Santos, Vitor Pereira, Rui Jorge e Manuel José estão a ser veículados por alguns órgãos de comunicação social da especialidade como os substitutos de Bento no comando técnico da selecção nacional.

Breves #4

Eu percebo perfeitamente a relação entre o seleccionador nacional e o presidente da federação: um quer subverter a selecção a um esquema de angariação de receitas para pagamento das obras faraónicas que está a projectar no Jamor; o seleccionador aceita porque no fundo quer fazer pouco (de mês a mês) e ganhar o dele; com um seleccionador a sério acabavam-se os amigáveis em Boston contra a Irlanda bem como os do Panamá e do Gabão. O seleccionador por seu lado faz um laisser-passer da estratégia do presidente da federação porque sabe que ganha aquilo que não ganhará noutra entidade patronal e neste mundo é mais um treinador sem mercado. Vicissitudes de uma relação baseada na incompetência.

Crónica #2 – Portugal vs Albânia – Crónica de uma incompetência anunciada

nani

Um dejá vu… Aquela situação anteriormente vista. Aquela estreia sofrida contra uma equipa secundária que redunda num empate… ou numa derrota escandalosa. Os albaneses conseguiram hoje em Aveiro a sua 4ª vitória em rondas de apuramento para uma grande prova internacional. Depois de terem vencido grandes selecções europeias como a Macedónia, o Casaquistão ou a Noruega, a Albânia bate fora a selecção Portuguesa. E a incompetência apregoada pelo líder federativo como explicação do fracasso luso em terras brasileiras estendeu-se desde terras de vera cruz para cá.

Exibição desinpiradíssima de uma equipa que entrou sem dinâmica (o conceito de dinâmica apenas se aplica no primeiro tempo às combinações elaboradas por Nani e João Moutinho no flanco direito; os dois foram os únicos que conseguiram ter a lucidez necessária para tocar o andor para a frente), sem fio-de-jogo (como é que esta equipa poderia ter fio-de-jogo se nunca o teve?; se considerarmos que o único fio-de-jogo da equipa é levar a bola até aos corredores, o lateral e o extremo combinarem entre si e um deles cruzar, sim, esse é o fio-de-jogo da selecção na era Paulo Bento) e acima de tudo sem ideias para dar a volta quando se encontrava a perder.

As oportunidades foram muitas: duas cabeçadas de Ricardo Costa, uma de Pepe a livre de Nani ao lado, um remate de Nani à entrada da área bloqueado por um defesa albanês, um remate em arco de Ricardo Horta na 2ª parte à trave seguida de um autêntico penaste de Pepe por cima da baliza quando o central tinha tempo para dominar e fazer melhor; dois remates de Coentrão da esquerda: um ao lado, outro para Berisha fazer uma defesa para a fotografia).

Não se pode dizer que a Albânia tivesse chegado ao Municipal de Aveiro com a lição estudada. Pouco ou nada se viu desta selecção de leste. Na primeira parte aproveitaram a falta de dinâmica da selecção assim como a escassez de ideias, limitando-se a defender com bastante agressividade (agressividade a mais em alguns momentos do jogo) com uma defesa baixa, onde sobressaiu a marcação individual a meio-campo a João Moutinho. Com um meio-campo e um ataque estático, em muitas ocasiões do jogo, o médio do Mónaco, a passar ao lado de uma grande carreira no clube monegasco, olhava para os colegas mas não tinha linhas de passe. Existiram momentos de jogo em que estavam 5 jogadores nacionais escondidos atrás da linha média dos albaneses, à espera que Moutinho sacasse de um lance que lhes permitisse receber a bola à entrada da área. Depois de uma primeira parte desinspirada, os albaneses acreditaram que poderiam levar mais que um ponto do Municipal de Aveiro e, na única jogada com cabeça tronco e membros, João Pereira facilitou o cruzamento no flanco direito e Pepe, igual a si próprio, a 5 metros do seu marcado directo, deixou o avançado albanês fazer o único golo da partida.

Bento mudou. Tirou William Carvalho (lento de movimentos; interessante na primeira fase de organização de jogo; extremamente permeável do ponto de vista defensivo como de resto viria a verificar-se aos 42″ quando um jogador albanês irrompeu pela área e o trinco do Sporting limitou-se a deixá-lo passar para a linha de fundo, num lance onde felizmente não existiram consequências de maior) e colocou em campo Ricardo Horta. Antes já tinha substituído o queixoso Vieirinha (exibição apagadíssima do extremo do Wolfsburgo durante a primeira parte) para colocar em campo um “inútil” Cavaleiro que mal se viu no 2º tempo, excepto num lance em que quis fintar tudo e todos e levar a bola para casa, deixando-a sair pela linha de fundo. O extremo do Malaga ainda tentou dar alguma dinâmica ao jogo e, poucos minutos depois da sua entrada no rectângulo de jogo sacou do lance mais prodigioso da turma das quintas no inferno de Aveiro, atirando a bola à trave num remate em arco.

A incompetência manteve-se.

Assim como o fio-de-jogo (ou a falta dele) de Paulo Bento. Durante os 90 minutos, os portugueses voltaram a insistir no típico “bola para as alas, combinação entre alas e cruzamento” – este estilo de jogo resulta quando na área se tem um avançado mortífero. Éder não é esse avançado mortífero. Ou pelo menos só o demonstra ser em Braga. A bom da verdade, Éder nem sequer é ponta-de-lança para este estilo de jogo. Sendo um jogador de área (preferencialmente de um toque), não podemos ter lá um ponta-de-lança “só porque sim ou só porque não existe melhor” – Éder não é jogador para vir atrás buscar bola e participar no processo de construção de jogo porque não é um jogador dotado tecnicamente o suficiente para sair da área (e arrastar o seu marcador directo, construído um espaço que deveria obrigatoriamente ser aproveitado por alguém da linha média capaz de aparecer a finalizar) e dar de primeira para as alas de forma a conseguir baralhar as marcações e abrir esse mesmo espaço para a entrada de um 2º jogador. Para além disso, Éder não pode de maneira alguma fazer 2 faltas sobre o central adversário a cada 3 bolas bombeadas para a área ou ser, como o foi hoje, demasiado lesto no ataque às bolas que cruzaram a área e no remate, como o foi numa bola que lhe apareceu na zona de penalty à qual não conseguiu rematar, limitando-se a esperar que o jogador albanês, fortuitamente, o carregasse dentro da área.

Quanto a André Gomes, penso que foi tirada a prova dos 9: o jogador do Valência não joga nada. Não acrescenta nada à equipa. Todos os processos que executa estão carregados de uma lentidão tamanha, convidativa a que a outra equipa se sente numa cadeirinha e espere o previsível passe que o antigo médio do Benfica venha a executar.

Para terminar, destaque para a péssima arbitragem de Ruddy Bouquet. O francês nomeado pela UEFA para esta partida esteve muito mal no capítulo técnico disciplinar. Na primeira parte deixou os albaneses distribuir pancada a gosto. 2 das entradas mais ríspidas (uma sobre Coentrão e outra soube Moutinho roçaram claramente o vermelho directo). Nessa mesma altura deixou o guardião Berisha demorar uma eternidade para bater os pontapés de baliza. Na 2ª parte não viu uma falta descarada sobre Nani e uma grande penalidade sobre Pepe. Contudo, a péssima arbitragem do francês não apaga a péssima exibição portuguesa na partida desta noite.

Já diz o ditado antigo que “não basta parecer a mulher de César, é preciso sê-la” – este velho provérbio de origem Romana encaixa que nem uma luva para o presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Os problemas de fundo do futebol português que foram amplamente debelados após a eliminação do mundial não podem ser resolvidos com paninhos quentes. Não se pode atirar areia para os olhos na admissão de incompetência de toda a comitiva se as estruturas não forem radicalmente abaladas. As mudanças elaboradas no seio das selecções, em específico, da selecção sénior acabaram por provar que se calhar os únicos incompetentes foram os anteriores médicos da mesma. Ou somos todos incompetentes e damos lugar a quem seja mais competente que nós, ou então, à boa moda portuguesa, enterra-se a viola no saco, assobia-se ao ar e, como dizem nuestros hermanos espanhóis “no pasa nada” – Fernando Gomes optou pelo 2º modelo de conduta e poderá estar acometido a morrer pela boca como o peixe.

P.S: Não se esperem facilidades nos próximos jogos. A Arménia esteve muito perto de tirar dividendos da visita a Copenhaga, tendo estado a vencer por 0-1. Os dinamarqueses viraram o resultado para 2-1 no 2º tempo mas os armenios deram um alerta: estão no Grupo I para lutar pelas vagas que dão apuramento directo. Se esta Albânia, uma equipa sem disciplina táctica e sem jogadores tecnicamente dotados, conseguiu vir buscar 3 pontos a Aveiro, os Armenos, 100 vezes maisn disciplinados tacticamente e capacitados tecnicamente poderão vir a Portugal fazer o mesmo.

 

O que é que afinal correu mal, Fernando?

fernando gomes

Reconheço que, aquando da sua eleição a 12 de Dezembro de 2011, nunca vi em Fernando Gomes um homem capaz de líderar os destinos do futebol português. Em primeiro lugar porque não lhe reconheço trabalho suficiente na esfera do futebol para ocupar tal cargo. Relembro que Gomes saltou directamente da administração da SAD do Porto, instituição da qual se especula ter saído desavindo com Jorge Nuno Pinto da Costa, para a presidência da Liga e, posteriormente para a presidência da Federação, numa altura, relembro, em que o novo Regime Jurídico das Federações Desportivas já era uma realidade e, a própria FPF, vinculada com alguma dificuldade após várias assembleias-gerais para esse regime jurídico (o mesmo retirou alguns direitos às associações distritais de futebol) viu alteradas as suas competências e até a sua própria organização interna.

Em segundo lugar, porque, saídos de uma tenebrosa administração Madaíl impunha-se que o novo líder federativo tivesse o condão de emendar os erros financeiros cometidos por essa gestão da FPF e fosse capaz de ter um projecto ambicioso para a casa do futebol português.

Como objectivo explicito de mandato, Gomes prometeu construir a cidade do futebol no Jamor. A bom da verdade, os quadros da FPF tudo tem feito para levar a cabo a empreitada, não se coibindo de hipotecar sucessivamente o sucesso desportivo das selecções em prol de um objectivo comercial que permita à direcção do organismo ir eliminando o passívo herdado da direcção de GIlberto Madail – Relatorio de Contas da FPF. Assim sendo, aproveitando o prestígio que as nossas selecções atingiram na actualidade futebolística, não foram totalmente estranhas as decisões tomadas pela FPF na marcação de amigáveis em destinos tão bizarros como pouco profícuos como o Gabão ou o amigável realizado em Setembro do ano passado em Boston contra a selecção brasileira. Sendo excessivamente bem paga ao nível de cachets, não tenho qualquer pejo em afirmar que a selecção AA foi utilizada pelo presidente federativo como fonte de receitas para as empreitadas a que este se vinculou no seu primeiro ano de mandato.

Depois de mais uma fase de qualificação sofrida, era altura de programar a participação em mais um mundial de futebol. O plano de preparação seria dividido em 3 fases:

– 1ª fase realizada no Estoril, mais precisamente no Estádio António Coimbra da Mota com a realização de um amigável frente à Grécia.

– 2ª fase realizada nos Estados Unidos da América, mais precisamente numa infraestrutura desportiva do Estado de New Jersey, com um fuso horário idêntico ao brasileiro e com condições climatérias parecidas com aquelas que a comitiva iria ter no Brasil, ou seja, com uma humidade de ar a rondar os 40%. Para esta fase da preparação foram marcados dois amigáveis contra o México e a República da Irlanda.

– 3ª fase realizada nas infraestruturas hoteleiras e desportivas escolhidas pela FPF entre as muitas propostas apresentadas, localizada em Campinas, estádio de São Paulo, respeitantes a uma unidade hoteleira de luxo com todas as condições necessárias para a recepção de uma selecção participante, 2 campos de treino programados (o estádio do Ponte Preta e um estádio menor utilizado para a realização de treinos; e treinos abertos) e a vantagem de um dos aeroportos de São Paulo ficar a poucos minutos de viagem da unidade hoteleira. Como benefício acessório, a FPF reiterou ainda que a zona em causa (Campinas) era uma zona habitacional residida por uma considerável camada populacional luso-descendente, factor que poderia efectivamente jogar a favor da selecção pelo apoio que é indispensável à participação num Mundial de Futebol.

O resto da história todos conhecem. No final do mundial, o presidente da FPF afiançou que a seu tempo seria conduzida uma investigação sobre o que correu mal neste mundial e revelados os resultados dessa investigação interna.

Na semana passada, dois meses idos da desastrosa participação no mundial, o presidente da Federação decidiu aparecer às 17h de uma terça-feira para finalmente revelar o que é que correu mal na participação lusa no mundial.  Desculpando-se com a permissa “todos fomos incompetentes”, Fernando Gomes não conseguiu justificar quem é que foi incompetente. Arrebatou todos no mesmo saco e rapidamente afirmou que a preparação traçada era a adequada para a participação num mundial de futebol, modificou um parte menor da estrutura das selecções e logo que pode, escapuliu-se para o seu último bastião redentor: a cidade do futebol.

Entre as modificações traçadas na estrutura das selecções, ficámos a saber do responsável máximo federativo a saída  (já solicitado antes da prova pelos próprios; quão convenientes estas saídas pelo próprio pé) do departamento médico da selecção A (Dr. Henrique Jones e Dr. Nuno Campos) e a sua substituição por um novo departamento médico comandado pelo afamado cirurgião ortopédico Dr. José Carlos Noronha. A confiança em Paulo Bento, um dos únicos seleccionadores presentes no mundial que renovou com a sua federação antes da prova, manteve-se, concedendo o presidente ao seu pupilo um novo canal de interligação às selecções jovens, ou seja, Paulo Bento acumulará com o cargo de seleccionador nacional, o comando técnico da estrutura jovem da FPF. E a Cidade do Futebol fez-se ouvir.

Da boca do responsável federativo não ouvimos qualquer justificação acerca do facto de ter renovado previamente com o seleccionador nacional, sabendo que grande parte das Federações Nacional esperam pelo fim do ciclo para fazer uma reflexão aprofundada do trabalho realizado para apurar os erros cometidos e realçar o que é que se deve mudar para o ciclo seguinte. Do responsável federativo não ouvimos qualquer justificação acerca do facto do seleccionador nacional ter convocado meia dúzia de jogadores da sua estricta confiança que não se encontravam nas melhores condições para abordar um Mundial de Futebol, ainda por cima, disputado sob condições climatéricas que obrigavam a cuidados fisiológicos redobrados. Do presidente federativo, não ouvimos qualquer justificação quanto à pertinência dos amigáveis realizados durante a fase de preparação. Do presidente federativo, não ouvimos qualquer justificação quanto às ditas investigações levadas em curso após a eliminação da competição. Ao comum português não foi esclarecido o timing de chegada da equipa ao Brasil, ignorando todos os clínicos que aconselharam previamente à necessidade de chegar ao Brasil num prazo de 6 a 14 dias de antecedência da primeira partida, de forma a que os jogadores se pudessem ambientar naturalmente ao fuso horário brasileiro e ao clima. Muitas foram as vozes clínicas que alertaram para a necessidade de uma chegada nunca inferior ao prazo de 9 dias de antecedência do primeiro jogo. A equipa chegou a Campinas a 5 dias da prova, sendo que um desses dias foi “gasto” na viagem para Salvador, o local do primeiro jogo.

Curiosamente, no dia da eliminação da fase-de-grupos, o presidente da FPF foi ávido em refugiar-se novamente nas contas, noutro dos bastiões do seu mandato, quando afirmou que os contribuíntes portugueses não iriam pagar a desastrosa participação, pois, os custos da mesma já estavam cativos nas verbas que a FIFA atribui pela participação das selecções na competição. O presidente da FPF não teve qualquer pejo em deturpar e subverter, para efeitos de imagem pessoal perante a vox-populi num momento negativo, as regras do jogo: as verbas que a FIFA dá às Federações que participam nos mundiais não servem para pagar as despesas de participação das respectivas selecções mas para serem canalizadas em development, ou seja, na construção de infraestruturas que fomentem a prática da modalidade no país em questão.

Afinal de contas quem é que foi incompetente? Quem é que foi incompetente se as únicas pessoas que saíram foram os médicos e o seleccionador, o mais incompetente de todos, saiu do processo com poderes reforçados? Se o presidente da Federação se proclamou incompetente porque é que não abdicou do lugar na hora? Como é que poderemos ter tantos incompetentes a representar a nossa selecção?