Crónica #3 – Bundesliga – Bayer de Leverkusen 3-3 Werder Bremen

Numa jornada extremamente interessante ao nível de jogos em várias das principais ligas europeias, apontei como destaque no meu schedule para o fim-de-semana o jogo inaugural da 3ª jornada da Bundesliga que iria opor frente-a-frente Bayer de Leverkusen e Werder Bremen. Não me arrependi da escolha tomada em detrimento de outro dos adversários do Benfica, o Mónaco, que, à mesma hora defrontava o Olympique Lyonnais no Estádio Gerland para o jogo inaugurar da jornada deste fim-de-semana da Ligue 1.

Bayer de Leverkusen e Werder Bremen protagonizaram na BayArena de Leverkusen (totalmente cheia; 30210 espectadores) o melhor jogo da 3ª jornada da Liga Alemã. A quantidade de reviravoltas executada pelas duas equipas na partida (2) deixaram o resultado final em suspense até ao último segundo.

O Bayer de Leverkusen apresentou-se em campo com um onze muito parecido com o seu onze-tipo. Alinhando num sistema táctico 4x1x3x2 com um falso avançado (Çalhanoglu), o treinador dos farmacêuticos (alcunha pela qual é conhecido o clube de Leverkusen em virtude do facto de ter sido criado para os trabalhadores da multinacional Bayer) Roger Schmidt acabou por fazer apenas uma alteração aquele que deverá ser durante a temporada o seu onze-tipo. O alemão de descendência turca de 18 anos (internacional sub-19 pela Alemanha) Levin Oztunali entrou para a esquerda do ataque, lugar que pertence por norma a Sidney Sam (lesionado). O coreano Son-Heung Min, em destaque neste início de temporada, deu lugar na direita ao seu concorrente directo, o rapidíssimo Karim Bellarabi. Recapitulemos: Schmidt fez alinhar o jovem (intranquilo) Bernd Leno na baliza; uma defesa composta pelo croata Tin Jedvaj (emprestado pela Roma) na direita, Omer Toprak e o bósnio Emir Spahic no centro da defesa e Sebastien Boenisch na esquerda; Lars Bender mais recuado no meio-campo com missões defensivas (essencialmente recuperação de bola) e de primeira fase de construção\transição; mais à frente Schmidt posiciou Oztunali na esquerda, Bellarabi na direita e Gonzalo Castro; na frente de ataque, o jovem talento internacional turco de 20 anos contrato por 14,5 milhões ao Hamburgo Hakan Çalhanoglu foi colocado no apoio ao melhor marcador da Bundesliga 2013\2014 Stefan Kiessling.

A equipa do Noroeste da Alemanha entrou para a 3ª jornada da prova na liderança da mesma com 6 pontos, fruto de 2 vitórias, uma delas na jornada inaugural, na BayArena frente ao Borússia de Dortmund por 2-0.

Já a equipa do Bremen, orientada pelo alemão de ascedência indiana Robin Dutt, antigo treinador do Leverkusen em 2011\2012, fez alinhar um onze assente no sistema táctico 4x4x2, com um meio-campo liderado pelo antigo trinco do Rayo Vallecano Alexandre Galvez (transferido para o clube alemão neste defeso a custo zero), Eljero Elia numa das alas, Fin Bartels na outra (este jogador tem uma velocidade espantosa e é mortífero no contra-ataque) e uma dupla de ataque constituída pelo jovem camaronês (nascido na Alemanha) de 19 anos Davie Selke e pelo internacional argentino de 25 anos Franco DiSanto, jogador que já passou pelo Chelsea.

A equipa de Bremen somou 2 empates nas duas primeiras jornadas. Registaram-se para esta partida as ausências de titulares como Philip Bargfrede, Ludovic Obraniak e Luca Caldirola (central) estando a defesa entregue ao antigo internacional alemão Clemens Fritz à direita, Sebastian Prodl e Lukinya ao centro e ao argentino Garcia à esquerda

O Bayer de Roger Schmidt rapidamente tentou ter posse de bola, tornar o jogo muito rápido e muito vivo e apresentar a sua extraordinária verticalidade e objectividade para inaugurar o marcador. Neste início de partida, estiveram em destaque os dois jogadores que preenchem o corredor direito da equipa – Tin Jedvaj (sobe muito pelo flanco) e Karim Bellarabi tentaram criar superioridade numérica pelo flanco ao combinarem ao primeiro toque entre si pelo flanco. Apesar de algo trapalhão, o jovem extremo de 24 anos tentou servir da melhor maneira que pode o seu ponta-de-lança Stefan Kiessling.

Ao adoptar um sistema de pressão alta, assim que detinham o esférico na sua posse, os homens do meio-campo de Leverkusen tentaram criar jogadas de envolvimento ao primeiro toque, nas quais também participou Kiessling, recuando ligeiramente no terreno para poder receber a bola e endossá-la com relativa fluidez e rapidez de jogo para os flancos. Foi precisamente neste tipo de processos de circulação que nasceram a primeira ocasião de perigo e a jogada do primeiro golo desta: se a primeira jogada de perigo resultou num remate de meia-distância de Gonzalo Castro ao poste da baliza do Werder Bremen, aos 16″ Çalhanoglu solicitou Kiessling à entrada da área e este não perdeu tempo a colocar a bola na direita para a subir de Tin Jedvaj que, num remate fortíssimo, estufou as redes de Raphael Wolf.

O que se seguiu ao golo do Leverkusen foi uma avalanche de oportunidades para a equipa da casa fazer o 2-0. Recorrendo por diversas vezes à falta para travar o fortíssimo poder físico de Kiessling ou o drible em velocidade de Bellarabi, os 4 defesas da equipa orientada por Robin Dutt permitiram uma data de oportunidades para Çalhanoglu bater livres para a área de Raphael Wolf. O médio criativo de 20 anos revela ser um autêntico perigo nestas acções. Com uma portentosa capacidade de execução técnica de bolas paradas, consegue dar um arco perfeito à bola que tanto pode ser mortífero quando atira directamente à baliza (o Benfica jamais deverá cometer faltas até um perímetro máximo de 30 metros da baliza porque tanto em zona frontal como mais à esquerda, estão a oferecer um autêntico penalty a Çalhanoglu) ou quando bombeia a bola para a área à procura do jogo aéreo de jogadores como Kiessling, Toprak ou Emir Spahic. Os centrais do Leverkusen revelaram muita apetência no jogo aéreo ofensivo da equipa, demonstrando algum défice no jogo defensivo. Por várias vezes falharam intercepções de cabeça quando a bola era bombeada para as suas costas pelos jogadores do Bremen, entre outros desequilíbrios defensivos, cuja elucidação pude comprovar nos golos marcados em contra-ataque pela equipa de Robin Dutt.

Sem deixar respirar a equipa de Bremen (não conseguiu criar uma jogada de perigo até ao golo fortuito obtido em cima do intervalo), a equipa de Leverkusen pode queixar-se da falta de sorte no primeiro tempo. Em abono da verdade, a equipa de Roger Schmidt poderia ter marcado 4 ou 5 golos em diversas jogadas de perigo que foi construindo no primeiro tempo:
– aos 20″ um contra-ataque conduzido pelo corredor central por Bellarabi após recuperação de bola efectuada por Lars Bender a meio-campo redundou num remate do extremo para defesa incompleta para a frente de Wolf para os pés de Kiessling, mas, o internacional alemão na recarga com tudo para fazer o 2-0 passou a bola ao guardião do Bremen.
– aos 27″ çalhanoglu bateu um canto em arco para o 2º poste onde apareceu Stefan Kiessling mais alto que tudo e todos a executar um amorti para a pequena área directamente para Spahic, que, antecipando-se ao seu marcador directo empurrou para a baliza. A bola haveria de caprichosamente bater na trave e não entrar.
– aos 30″ çalhanoglu e Kiessling puseram mais uma vez à prova Wolf, fazendo o guardião duas belas defesas.
– dois minutos depois, Lars Bender desmarcou Bellarabi em velocidade, este bateu o defesa Lukinya em velocidade, voltou a dar-lhe um nó cego na área mas não conseguiu melhor do que um remate à cara de Wolf.
– O extremo Oztunali haveria de receber uma bola na área e rematar rapidamente em rotação com a bola a embater novamente na trave.

A equipa do Bremen estava portanto aos 35″ completamente encostada às cordas e impedida de ter a posse de bola. O domínio do Bayer era esmagador mas o 2º golo não aparecia. Faltava uma pontinha de sorte ao futebol de encadeamento ao primeiro toque, rápido e objectivo, em que cada jogador sabe perfeitamente as linhas de passe que vão ser criadas assim como os espaços onde vão aparecer os colegas nas suas movimentações, da equipa de vermelho e preto.
Essa pontinha de sorte que impediu o Werder Bremen de não sair para o intervalo na BayArena com uma goleada apareceu precisamente no último minuto da primeira parte. É certo que pelo meio, a equipa de Dutt já tinha feito dois remates à baliza: um sem perigo por Eljero Elia logo no 1º minuto e outro com perigo por intermédio de Fin Bartels. após a primeira das três falhas que Bernd Leno cometeu a sair dos postes (este jovem guarda-redes de 20 anos mostrou ser algo inseguro quando é chamado a sair fora dos postes). Na primeira oportunidade que a equipa conseguiu meter o seu rapidíssimo contragolpe, quase sempre iniciado pelas alas após recuperação de bola a meio-campo, na esquerda, Santiago Garcia tenta servir Franco DiSanto ao meio, este embrulha-se com Sebastien Boenisch (a tapar ao meio uma jogada onde se denota um claro desequilíbrio defensivo provocado pela ausência dos centrais que tentaram acorrer de imediato ao argentino) e a bola sobra para o flanco direito onde aparece Fin Bartels a finalizar para o golo do empate.

Nesta jogada revelou-se um dos principais défices defensivos da equipa: quando solicitados a defender contra-ataques, não existe um clara noção de ocupação de espaços defensivos por parte dos 4 defensores do Bayer de Leverkusen, existindo situações em que os 2 centrais acorrem simultaneamente ao portador da bola, criando desequilíbrios que muitas vezes colocam homens isolados nas suas costas perante o desamparado Bernd Leno.

Com um empate a 1 bola ao intervalo, a 2ª falta começou com uma atitude mais proactiva, mas também mais faltosa por parte da equipa do Bremen. Os 4 centrais em jogo (Prodl, Lukinya, Spahic e Toprak) cometeram muitas faltas nos duelos contra os pontas-de-lança das duas equipas (Kiessling e Franco DiSanto) – apesar de não ter aparecido em zonas de finalização (o jogo em contra-ataque da equipa também não proporcionou que o argentino se mexesse na área) DiSanto foi naturalmente incentivado a procurar jogo fora da área, facto que obrigou a uma marcação apertada de Spahic. O argentino revelou-se muito trabalhador durante os 90 minutos, auxiliando inclusive a equipa a defender.

O empate trouxe algum nervosismo à equipa da casa nos primeiros 10 minutos do 1º tempo. Apesar de continuar a procurar o 2º golo, a equipa perdeu algum discernimento, principalmente a meio-campo. E isso levou o Bremen a consolidar a primeira reviravolta da partida. Quem visse o jogo que o Bayer realizou na primeira-parte jamais pensaria que Franco DiSanto aos 59″ haveria, numa jogada tirada a papel químico daquela na qual resultaria o golo do empate aos 44″ colocar os visitantes a vencer na partida, de resto, com um fantástico túnel realizado sob Leno no acto de finalização da jogada.

A vantagem do Bremen não durou muito e provocou a ira dos visitados. A equipa de Leverkusen provou que consegue reagir muito bem à inferioridade no marcador e que tem força para procurar rapidamente inverter o resultado. Gonzalo Castro voltou a pegar no jogo da equipa e Roger Schmidt decidiu colocar mais criatividade em campo, tirando o desinspirado Oztunali para a entrada do coreano Min. Min encaixou-se na direita e Bellarabi passou para o flanco esquerdo. O coreano veio refrescar a velocidade empregue pela equipa na ala direita e tentou animar a criação de jogo com os seus rapidíssimos dribles contra os duros defensores de Bremen. O argentino Garcia teve dificuldade em segurar o coreano que, após um brilhante livre executado por Çalhanoglu para o 2-2 aproveitou da melhor maneira mais uma jogada rápida de envolvimento entre Kiessling e o lateral Jedvaj (o croata colocou-lhe rapidamente a bola numa posição mais interior à entrada da área) para dar um completo nó cego sobre o seu opositor directo, retirá-lo da disputa do lance e rematar para o fundo das redes. Estavamos aos 73″. Em 14 minutos, a equipa de Leverkusen conseguiu obter 2 golos, mas, pelo meio, poderia ter sofrido o 2-3 quando Davie Selke não foi capaz de desfeitiar Bernd Leno em mais uma rápida saída da equipa para o contra-ataque que haveria de isolar o jovem avançado de 19 anos na cara do guarda-redes local.

A nova cambalhota no marcador levou Robin Dutt a apostar tudo no ataque. Descendo Alex Galvez no terreno, deu ordens ao central congolês Lukinya para se posicionar atrás dos pontas-de-lança com a missão de participar no futebol aéreo que a equipa passou a praticar. Com muitas dificuldades para travar as bolas aéreas, os centrais do Bayer ficaram a dormir por exemplo aos 71″ (ainda antes do golo de Min) quando o congolês saltou mais alto que Spahic, penteou uma bola à entrada da área para as costas de Toprak, onde apareceu novamente Bartels a tentar contornar Leno. Neste lance, valeu a coragem do guardião local ao conseguir desarmar o extremo do Werder Bremen com uma palmada na bola com a sua mão esquerda.

O melhor da partida haveria de estar guardado para os 85″ num lance em que Franco DiSanto conseguiu dar sequência a uma jogada quase perdida na direita, o cruzamento apareceu por parte do recém-entrado Marion Busch e o central Sebastien Prodl apareceu na área ao 2º poste a empurrar para o empate. Como o futebol é uma caixinha de surpresas, o Werder Bremen só não venceu de forma irónica em Leverkusen porque o também entrado Hajrovic não deu a melhor sequência a mais uma rápida jogada de contra-ataque aos 88″: em vez de desmarcar DiSanto na direita, tentou fintar 4 adversários e acabou por perder a bola.

Fica a clara sensação que o Leverkusen poderia ter ganho facilmente este jogo caso tivesse beneficiado de alguma sorte na sua finalização, mas, o empate também acaba por ser merecido pelos erros infantis praticados pelos dois centrais da equipa de Roger Schmidt. Uma equipa com a ambição da equipa germânica (aproximar-se e quem sabe lutar pelo título da Bundesliga) e com o seu nível (irá jogar a Champions como se sabe no grupo do Benfica) não pode ter 2 centrais tão fracos do ponto de vista posicional.

Para além das fragilidades defensivas desta equipa, estarão à atenção do Benfica, a fácil, rápida e objectiva circulação de bola desta equipa, a criatividade dos seus homens da frente, as movimentações desgastantes de Kiessling no último terço do terreno, ora aparecendo fora da área a participar nos processos de circulação e construção de jogo, ora na área, o poder da equipa nas bolas paradas com dois exímios executantes (Çalhanoglu e Gonzalo Castro) e as fragilidades que a equipa apresenta na batalha do meio-campo. Lars Bender acaba por ser o único jogador do meio-campo da equipa que se empenha a sério na recuperação de bola a meio-campo. A equipa executa uma pressão alta asfixiante, uma boa pressão a meio-campo, mas acaba por ter só um homem com características de poder de choque para as 2ªas bolas neste em virtude do balanceamento muito ofensivo de Gonzalo Castro.