há que dizê-lo abertamente

Na imprensa portuguesa da especialidade, muitos tem advogado, à priori, a despromoção do Boavista. A primeira vitória boavisteira no campeonato à 4ª jornada frente a Académica (no Bessa) poderá ser o sinal de alarme que a equipa axadrezada necessitava para ganhar força anímica para contrariar tais vozes.

Não esquecendo as imensas dificuldades financeiras que tem assolado a equipa portuense nos últimos anos e as limitações criadas por essas mesmas dificuldades na construção de um plantel competitivo para o nível proposto, é assertivo afirmar que a equipa orientada por Petit não só vendeu caras as derrotas obtidas nas primeiras jornadas do campeonato como poderá, aqui e ali, surpreender qualquer equipa deste campeonato e arrancar pontos.

Ao analisar a turma do Bessa, conseguimos rapidamente escapulizar as limitações técnico-tácticas de algum jogador e afirmar, sem qualquer pejo, que grande parte do plantel boavisteiro não tem escola nem skills para jogar ao mais alto nível. Exemplo disso são os centrais Fabio Ervões (muito fraco do ponto de vista posicional e com pouca velocidade para abordar avançados rápidos) ou o extremo Julian Montenegro (um extremo muito esforçado mas muito limitado ao nível técnico). Mesmo se esta equipa jogasse na 2ª liga, não acreditaria de imediato que esta equipa tivesse potencial para poder classificar-se nos 6 primeiros da tabela, dada a qualidade de alguns dos planteis de equipas cuja ambição é a subida de divisão. Contudo, esta equipa boavisteira está disposta a fazer das tripas coração para atingir os seus objectivos. Petit construiu um colectivo muito forte do ponto de vista mental que não está a deixar-se abalar pelas suas limitações e derrotas que tem somado nestes primeiros jogos oficiais. Posicionalmente, defendem em magote e não existe uma clara organização defensiva. Ofensivamente, é uma equipa que vive do contra-ataque porque não tem jogadores capazes de tem fio-de-jogo no ataque organizado. No entanto, as limitações do plantel boavisteiro não tem causado problema à construção de uma identidade de jogo por parte de Petit, identidade que é nada mais nada menos do que uma cópia exacta da atitude que pautava a abordagem ao jogo do antigo médio boavisteiro: é uma equipa agressiva, acutilante, que defende com coração e tenta, num ou noutro contra-ataque marcar a diferença e somar pontos.

Se esta equipa conseguir dar sequência ao resultado que obteve contra a Académica poderá galvanizar-se e consumar a primeira surpresa desta Liga. O futebol está cada vez mais imprevisível e menos assente em pressupostos teóricos. E o boavista poderá rapidamente aproveitar-se do menosprezo que alguns treinadores e comentadores desportivos estão, assentes numa base teórica, a atribuir ao plantel axadrezado.